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Francisco Petros e José Marcio MendonçaTerça-feira, 16 de junho de 2009 - nº 56
PIB, uma boa surpresa
A grande surpresa da semana passada foi a divulgação do PIB. A queda de menos de 2% indicou que as políticas de estímulo fiscal à demanda por parte do governo funcionaram. Adicionalmente, o bom desempenho do setor de serviços e o bom nível de consumo das famílias também foram fatos positivos. Tudo isto num ambiente em que o BC ainda não tinha feito a sua parte na rapidez necessária. A pergunta que fica é : este número nos levará a um PIB mais positivo que o esperado em 2009 e no próximo ano ? O mercado estima um número de crescimento próximo de zero para este ano e de 3,5% no ano que vem. Ambos factíveis. Todavia, sejamos objetivos : as expectativas serão comandadas pelo desempenho das principais economias mundiais. Será a recuperação destas que alavancará os preços dos produtos primários e mudará as expectativas de setores industriais (que apresentou um resultado ruim no 1º trimestre), tais como o metalúrgico e o siderúrgico nos quais a ociosidade é monumental. Uma coisa é certa : a recuperação virá via consumo. A taxa de investimento permanecerá sofrível. Aqui e lá fora.
PIB - a observar :
1. O consumo (e o investimento) do governo colaborou também para o melhor resultado do PIB. Como será possível sustentar essa situação no médio e no longo prazo com o aumento das despesas públicas com o custeio da máquina pública ?
2. Como se comportará a renda do brasileiro (emprego e salários) ? Continuará crescendo ou o consumo passará a se basear cada vez mais no crediário, no endividamento ?
PIB e eleições
A leitura mais atenta indica que o PIB será o grande eleitor de 2009. Por mais que haja um índice de popularidade que é apenas do presidente, ela também oscila ao saber das "sensações" econômicas do eleitor. E nesse ponto a situação tem um grande trunfo : a renda do eleitor de renda mais baixa está mais ou menos isenta dos sabores da economia, pois o bolsa-família, o salário-mínimo e o rendimento das aposentadorias e pensões do INSS estarão cobertos de deterioração por decisões governamentais. É um público cativo de cerca de 40% do eleitorado.
G-8 pesa possibilidades
Os números de crescimento dos países emergentes, inclusive o Brasil, foram bem melhores em comparação ao que era esperado há poucas semanas. O sistema financeiro internacional começa a dar sinais de estabilização e o consumo e taxa de emprego nos EUA estão iniciando um processo benigno. Na União Européia (27 países) a taxa de emprego caiu 1,2% no primeiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. Ainda não há no Velho Mundo sinais de estabilização. Pois bem : os países mais ricos do mundo reunidos neste fim de semana na Itália começam a pesar quando deixarão de dar estímulos fiscais para minimizar os efeitos da crise econômica atual. A preocupação é óbvia : todos sabem que há imensos déficits fiscais a serem controlados. Os ministros do G-8 pediram que o FMI pesquise e recomende estratégias para que tal controle possa ser feito dentro da forma mais concertada entre os países ricos. Isso é importante para não criar novos desequilíbrios entre os países mais desenvolvidos. A consequência de déficits fiscais tão elevados é evidente : as taxas de juros dos títulos de longo prazo (10 anos) dos Tesouros estão subindo em função dos temores dos investidores com a situação de crédito dos governos. A demanda por títulos dos EUA por parte de países como Rússia, China e outros emergentes está caindo. Nos EUA, a taxa de juros dos títulos de 10 anos está chegando aos 4% ao ano, enquanto a taxa básica permanece ao redor de zero. Até janeiro deste ano a taxa destes títulos era de 2,2% ao ano. Quem possuía um título destes perdeu 13% de valor deste então. A probabilidade maior é de que a taxa continue subindo ainda mais...
Os investidores subestimam riscos fiscais
No Brasil, pouco se discute e pouco se sabe qual é o custo fiscal que se está incorrendo para se estimular o consumo e o investimento. Sequer se tem consenso sobre prazos e custos do PAC. Todavia, sabe-se de duas coisas vitais : as despesas do governo estão crescendo na última década a um ritmo médio de cerca de duas vezes o crescimento do PIB e a taxa de investimento continua medíocre em função da baixa capacidade de investir do setor público. Tudo isto num ambiente político no qual nada se fez de relevante em termos de reformas. Nem a bancada do governo, seduzida por cargos e benefícios, e nem a da oposição, apavorada com a popularidade de Lula, cumprem o seu papel constitucional de fiscalizar e analisar o Orçamento. O Congresso está mergulhado em repetidas crises e não parece que irá sair delas com rapidez. O BC tem agido na direção certa na política monetária, mas com lentidão. Agora a taxa básica de juros está se aproximando de seu limite de baixa - quem sabe 9% ao ano. Diante de um cenário fiscal em deterioração no médio prazo, irão os investidores comprar títulos de longo prazo do Tesouro ? A taxa de juros dos títulos prefixados de janeiro com vencimento em janeiro de 2010 estão em 10,1% a.a. aproximadamente. Talvez muito baixa frente ao risco fiscal que o Brasil venha a apresentar no futuro. Ainda mais depois do ano eleitoral de 2010.
Radar "NA REAL"
Estamos mantendo o cenário básico para o mercado financeiro. Não há novidades expressivas sobre o desempenho prospectivo dos diversos segmentos do mercado local e internacional. Como escrevemos nas notas acima, o grande risco do momento é o desempenho das taxas de juros dos títulos públicos dos países centrais e do Brasil em função das perspectivas dos déficits fiscais. De outro lado, prevalece uma maior calma no mercado. A volatilidade cai e a nas próximas semanas os mercados acionários devem continuar a "andar de lado". O mercado está mais seletivo e a espera de novas notícias. De toda a forma, o cenário é bem mais benigno.
12/6/9 |
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TENDÊNCIA | |||
SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ |
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- Pré-fixados | NA |
estável | alta |
- Pós-Fixados |
NA | queda/estável | estável/alta | |
Câmbio ² |
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- EURO | 1,385 | alta | alta |
- REAL | 1,93 | estável/alta | alta |
Mercado Acionário |
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- Ibovespa | 53.558,23 | estável/queda | alta |
- S&P 500 | 946,21 | estável | alta |
- NASDAQ | 1.858,00 | estável | alta |
(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Sarney, um mal do Brasil
José Sarney é daqueles males que permeiam a arena política brasileira das mais sofridas mazelas. Prócer do regime militar, presidente do partido que deu sustentação à ditadura, acabou compondo a chapa da Nova República e tomou conta do pedaço depois da morte de Tancredo. Fez um plano de estabilização que se perdeu na sua ambição de permanecer popular e não impor um ajuste fiscal necessário. Deixou o país na hiperinflação. Recolheu-se ao Senado via o Estado do Amapá eleito por um partido que já foi liderado por Ulysses Guimarães. Voltou a ser cortejado por FHC e presidiu o Senado mais duas vezes, uma delas agora. É o hábil rei da barganha política junto com o grupelho de Temer, Renan e Cia. limitada. Membro da ABL, onde participa de conversas regadas a chá e a rechonchudos bolinhos. Seus livros ? De qualidade literária duvidosa e cansativos versos e parágrafos. Agora está a nomear e exonerar secretamente (pode ?) netos e parentes. Meu Deus ! O homem tem vigor para tudo... Sarney é a cara do Congresso do país. Infelizmente. Tristemente. O que há de pior no país.
Nem tudo ainda apareceu
A última estatística oficiosa indicava, no fim da semana passada, que já passavam dos quinhentos os atos secretos expedidos no Senado nos últimos anos. Depois deste último fim de semana, já se falava em mais de mil. E quem conhece as entranhas da Casa presidida por Sarney diz que ainda não se viu nada. As "bisbilhotices" da imprensa ainda não chegaram à gráfica do Senado e nem ao Prodasen, o serviço de processamento de dados da Casa. E que serve também à Câmara. Aliás, ainda não se descobriu nenhum caso de "ato secreto" na casa dos deputados. Será que os senadores não transferiram essa "tecnologia" aos colegas deputados ?
A quem interessa ?
Alguns estão se perguntando de onde estão saindo as últimas informações que colocaram novamente em xeque o Senado e batem diretamente no senador Sarney. Descobrir isso pode ser útil para entender a guerra que se trava em Brasília e pode respingar na sucessão presidencial. Algumas hipóteses, sussurradas na capital da República :
1. Estaria partindo de Agaciel Maia e João Carlos Zoghbi, os funcionários graduados do Senado afastados por suspeita de irregularidades e ameaçados de virar bodes expiatórios de todas as inacreditáveis (porém reais) histórias de maus costumes protagonizadas na Casa. Seria uma forma de cobrar proteção, dizendo um pouquinho do que sabem e podem expor.
2. Estaria partindo de funcionários de carreira do Senado, que nunca fizeram parte dessas panelinhas e incomodados com a imagem de todos os servidores da casa.
3. Estaria sendo alimentado por fontes de confiança do governo, para atingir um pedaço do PMDB no Senado e afastar as veleidades de independência desse grupo em relação à CPI da Petrobras.
Educação e gripe suína
Enquanto Sarney, o acadêmico, lidera o Congresso Nacional, a "Folha de S.Paulo" publicou (mais uma vez) um estudo alarmante sobre a educação (analfabetismo) no país. Para os que não leram, fizemos um pequeno resumo :
1. Cerca de 90% dos analfabetos absolutos (14 milhões no Brasil) estão fora das salas de aula;
2. Em SP, apenas 4,5% dos jovens e adultos frequentam os cursos de alfabetização. No Brasil este número é ainda menor : 3,9%;
3. Há apenas dois anos do fim do prazo para a erradicação do analfabetismo, 10% da população acima de 15 anos (14 milhões) declaram que não conseguem ler um bilhete com meia dúzia de palavras;
4. Números oficiais mostram que 582 mil jovens e adultos são analfabetos na região metropolitana de SP. Portanto, esta região tem um em cada três analfabetos do total das regiões metropolitanas do país. Eis a cidade mais rica do país;
5. Das 645 cidades paulistas apenas 20% participam do programa governamental "Brasil Alfabetizado";
6. A maior resistência para que jovens de 16 a 25 anos participem do programa de alfabetização se deve ao fator "vergonha".
O trágico cenário da educação no Brasil é endêmico. Se fosse gripe suína assim seria o tratamento dispensado. Com direito a boletins diários sobre esta "doença".
A educação é prioridade ?
Este é o discurso oficial (aliás, não tem político que não infle os peitos quando se refere a isto). Lula e o ministro da área, Fernando Haddad, um técnico em busca de uma carreira política, não perdem a oportunidade de reiterar esta prioridade. Porém... Porém, está em fase final de tramitação no Congresso, faltando apenas uma votação, uma PEC que livra as verbas da área de educação do contingenciamento de 20% da desvinculação das receitas da União (DRU). Sobrariam anualmente cerca de R$ 5 bi a mais para serem aplicados no setor. Acontece que o ministério da Fazenda está pressionando a base governista para não votar o projeto. Precisa do dinheiro para pagar juros, pagar aumento dos funcionários federais e para obras do PAC, a maioria muito menos relevante do que acabar como analfabetismo no país e melhorar a educação pública nacional. Cada um tem a prioridade que sua formação e informação aconselham. Guido Mantega é professor universitário.
Acreditem
Não levem mais na brincadeira - nem considerem algum erro de análise política - há possibilidade de o ex-ministro, ex-governador e atual deputado Ciro Gomes vir a disputar o governo de SP no ano que vem com o apoio e o entusiasmo do PT e de outros aliados - PC do B, PDT e anexos. Ciro é do PSB, em SP aliado a José Serra. O PMDB de Quércia é uma incógnita. Para o governo Lula, a candidatura Ciro teria duas serventias :
1. Afastaria o deputado cearense definitivamente da disputa presidencial. Até pouco tempo atrás Ciro era adepto da tese de que o governismo deveria ter dois candidatos à sucessão de Lula, como forma de forçar o segundo turno, evitando uma vitória dos oposicionistas (ele pensava em Serra) já na primeira rodada. Ciro também se apresentou em certa ocasião como um provável vice numa chapa comandada por Aécio Neves, quando ainda era muito forte a hipótese de o governador mineiro pular para o PMDB e sair candidato a Brasília com o apoio de Lula.
2. Ciro Gomes, com seu estilo agressivo, seria o grande mastim governista a morder os calcanhares do governador José Serra e dos tucanos, suas duas grandes obsessões. Alguns estrategistas dessa opção acreditam até que Serra poderia recuar em suas pretensões federais para não deixar a cidadela paulista cair no colo do petismo.
As explicações devidas por Ciro
Em política, tudo é possível. Há, porém, algumas questões a observar :
1. Ciro teria de passar boa parte da campanha explicando porque deseja governar um Estado que ele passou os últimos anos agredindo brutalmente, como responsável por todos os males econômicos e políticos do Brasil.
2. A escolha do "alienígena" Ciro Gomes (no partido e no Estado, embora tenha nascido em Pindamonhangaba) para disputar por ele o governo de SP, o petismo paulista confessa que não tem quadros no momento à altura da competição e admite publicamente um ano antes a possibilidade de uma derrota. Isso enfraquece o PT paulista, que hoje domina o PT nacional, em relação às outras seções estaduais. E se sabe que tanto no PT quanto no PSDB que o "paulistanismo" é muito criticado.
Uma nova estratégia do PT
Já não causa tanto estupor assim nos petistas a tese defendida por gente que sabe das coisas no partido que os dois objetivos principais do PT em 2010 devem ser, pela ordem :
1. Fazer o sucessor de Lula, de preferência com Dilma Roussef. Perder o governo federal seria um desastre para o partido, geraria inclusive sérios problemas de emprego por lá.
2. Fazer uma grande bancada na Câmara e no Senado, para evitar que o futuro presidente tenha de se submeter às tristes negociações que Lula tem sido obrigado a fazer com alguns parceiros. A força do PMDB despertou os petistas.
Somente em terceiro lugar, guardadas algumas exceções, eleger o governador será prioritário. As chapas regionais serão usadas para garantir palanques para a dupla Dilma-Lula. O PT pode ceder o governo estadual para garantir, por exemplo, o Senado. É óbvio que haverá reações de muitos interessados estaduais. Mas Lula já soltou seus comissários para garantir o máximo de fidelidade possível. É o chamado centralismo democrático de volta. Não deixa de ser um lance audacioso e inteligente.
Pergunta inocente
Alguém por aí tem notícias da oposição e das propostas do PSDB, do DEM e do PPS para dar ao Brasil saídas alternativas para a crise ? Quem souber, por favor, envie-nos.
Chão de estrelas
A AmBev, a Camargo Corrêa, a Embraer, a Suez, a Nestlé, a OAS, a Odebrecht, a Oi e a Volkswagen, além do empresário Eike Batista, do Grupo EBX, que entrou com uma cota de R$ 1 milhão (como pessoa física), são os patrocinadores do filme "Lula, o filho do Brasil", com estréia prevista para o início do ano da "graça" eleitoral de 2010. Sem abatimentos permitidos pela Lei Rouanet ou do Audiovisual. Como se diz, com dinheiro próprio, ao vivo e em cores, sem incentivos fiscais. Os subscritores desta coluna, contumazes frequentadores de salas de cinema e observadores dos esforços dos cineastas brasileiros, não se lembram de terem assistido, nos últimos anos, nenhum filme produzido no Brasil que tenha tido uma plêiade de tal grandeza como seus apoiadores. Nem com todas as possibilidades de uso de incentivos fiscais. Alguns estão se "aventurando" pela primeira vez em investimentos em cinema. Tomara que gostem. A cultura nacional ficará muito grata se eles prosseguirem com esse mecenato, não somente no cinema como também em outras áreas da cultura.
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A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros.
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Francisco Petros
Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira.
Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000-2002).
José Marcio Mendonça
Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde".
Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).
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