terça-feira, 24 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 79

por

Francisco Petros e José Marcio Mendonça
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Terça-feira, 24 de novembro de 2009 - nº 79

O PMDB da vida real

A imprensa, de um modo geral, não deu importância à reunião de parte do PMDB no sábado em Curitiba, sob o comando do polêmico Roberto Requião. O PT, o governo, o PSDB e o DEM também preferiram ignorar publicamente o fato. Porém, ele veio para perturbar. A moção de 14 seções estaduais do partido - maioria entre os 26 diretórios estaduais mais o distrital de Brasília - que lançou a candidatura própria de Requião à presidência racha o partido. Mostra, no mínimo, que o que está sendo vendido pelos líderes não é de pronta entrega. A candidatura Requião dificilmente vingará, bem como dificilmente o grupo que esteve no Paraná seguirá unido em torno de uma mesma candidatura à sucessão de Lula. Contudo, põe novos atores - e novos custos, novas exigências - a montagem da ampla aliança que o presidente quer formar em torno de sua favorita. O PMDB não tem uma voz unificada nem nenhuma liderança nacional. Lula terá de negociar com uma "confederação". E o presidente parece ter percebido o desafio depois da desacorçoada declaração de que a candidata governista vai ter de conviver com palanques duplos em diversos Estados. Como isso é delicado, complicado...

O PT na vida real

Quando se referiu ao "complicômetro" dos palanques duplos na campanha de Dilma, Lula não apontava para o PMDB a sua metralhadora giratória. Seus alvos maiores são os companheiros petistas de jornada. Está delicado em muitos Estados cortar carreira e ambições em nome de um projeto nacional. Lula, com o prestígio que tem, poderá impor ao seu partido o "centralismo democrático" dos bons tempos. Porém, deixará sequelas graves, capazes de prejudicar não apenas uma possível administração Dilma como também os passos futuros da legenda. Ainda mais se Dilma não ganhar e a turma for apeada do poder e ficar sem força em Estados importantes. O PT ao traçar sua estratégia futura tem algumas variáveis a considerar : o pós-Lula, a possibilidade de não eleger Dilma (ou seja, voltar à planície sem cargos) e o fato de seu aliado preferencial, o PMDB, não ter nada a perder na sucessão presidencial (será governo qualquer que seja o eleito).

O PSDB na vida real

Antes de mais nada, quem tiver informações sobre o PSDB, por favor, informe esta coluna. Ironias à parte, os tucanos terão de pular do muro antes do fim ano, talvez nas duas próximas semanas. As aparências que Serra e Aécio procuram exibir não convencem mais ninguém. O problema é que o partido parece não ter nenhuma liderança, nem mesmo o ex-presidente FHC, em condições de botar os móveis no lugar.

Será mesmo uma estratégia ?

Alguns bem informados do ninho tucano garantem que faz parte da estratégia eleitoral da oposição as duras críticas conceituais que o ex-presidente FHC tem feito ao presidente Lula, como as do artigo de duas semanas atrás publicado no "Estadão" e em "O Globo" no qual falou em subperonismo e outras coisas mais. O raciocínio é simples : como Lula quer comparar os dois governos - o dele e o de FHC - o ex-presidente sairia para a liça para debater com Lula. Dizem até que o presidente já mordeu a isca. Assim, Serra ficaria livre para provocar Dilma no terreno que os tucanos julgam melhor : propostas para o futuro, não um olhar para o passado, e confronto de biografias e capacidade gerencial. Pode ser que este já seja um caminho traçado. Antes, contudo, os tucanos precisam dizer o que pretendem.

Fed na corda bamba

Depois de um estímulo fiscal da ordem de US$ 3,0 trilhões, o Fed está fiscalizando e analisando algumas das principais instituições financeiras do país para verificar se têm capacidade financeira (capital adequacy) para bancar os riscos de suas carteiras de investimento e de crédito. Há pressões do Congresso americano para que a autoridade monetária impeça o surgimento de novas bolhas especulativas. A fiscalização foi iniciada junto aos bancos Goldman Sachs, JP Morgan Chase, e Morgan Stanley. Pois bem : a verdade é que o Fed está num momento delicado. Ao manter as taxas de juros próximas de zero, o Fed estimula a economia, mas também o surgimento das "bolhas especulativas". Há o agravante do enfraquecimento do dólar, o que é bom para as exportações americanas, mas é ruim para o equilíbrio das contas correntes dos parceiros comerciais dos EUA. A única coisa certa é que um erro do Fed custará caro aos americanos e ao resto do mundo.

Especulação : tudo como dantes

A proliferação dos fundos especulativos denominados hedge funds prossegue ao redor do mundo. Mais e mais executivos estão a caminho de montar as suas próprias empresas de investimento para participar da jogatina internacional. A única coisa certa nisso tudo é que nem a administração Obama nem os organismos multilaterais (BIRD, FMI, BIS), estão dispostos a emitir opiniões sobre o fenômeno, e muito menos regular estas instituições, muitas delas localizadas em paraísos fiscais. A economia mundial está a se recuperar a passos lentos e, em alguns casos, trôpegos. Todavia, os fundos especulativos estão recuperados e preparados para construir uma nova bolha.

Cadê a posição brasileira ?

Lula candidato fazia bravatas contra a especulação. Como presidente sabemos que tomou o caminho conservador na gestão econômica. Tem, inclusive, orgulho de emprestar dinheiro ao FMI, instituição contra a qual mirava os seus ataques políticos na fase "xiita". Não seria este o momento do Brasil cobrar uma posição em relação ao andamento das reformas relacionadas com o sistema financeiro internacional ?

Meirelles parece definido - I

Deve ser mesmo verdade a declaração do presidente do BC Henrique Meirelles de que permanecerá até o final do mandato do presidente Lula na sua atual posição. Não há desencanto de Meirelles com a política, mas também não há muito consenso no seu Estado natal em relação à sua candidatura. Os diretores atuais do BC parecem inclinados a seguir a posição do chefe. Isto pode evitar uma transição atabalhoada da autoridade monetária às portas do processo eleitoral do ano que vem.

Meirelles parece definido - II

Ficando, Meirelles estaria atendendo a um pedido de Lula, preocupado com um possível "efeito Dilma" no dito mercado. Há também o "efeito Serra" mais ou menos idêntico ao de sua concorrente : os dois são vistos por operadores do mercado financeiro como muito "abertos" no que tange à política monetária. Porém, há outras explicações plausíveis para as hesitações de Meirelles : o pouco espaço que os muy companheiros do PMDB, nacionalmente e em Goiás reservaram até agora para ele. Meirelles não tem a garantia ainda de que poderá disputar a governadoria ou uma das vagas goianas para o Senado. Menos ainda a possibilidade de ser vice de Dilma. E uma vaga de deputado federal, com a que ele renunciou em 2003 como tucano para ir para o BC, passou a ser pequena para quem tem o prestígio interno e externo que ele tem hoje. Meirelles prefere guardar-se para quando o carnaval chegar. Portanto, diz esta interpretação da provável desistência de Meirelles que pode ser apenas uma pressão sobre o PMDB, partido que até já se apresenta em sua propaganda como detentor do BC.

O Torós passou

Ponto para Meirelles : muito boa a sua atuação na substituição do falante diretor do BC Mário Torós. Indicou um nome bem recebido pela comunidade de negócios e mostrou autoridade perante o antigo diretor. Ficou uma dúvida, porém, que somente será sanada nas duas ou três próximas reuniões do Copom : de que lado perfilará o novo diretor, Aldo Mendes, oriundo da burocracia financeira estatal - se do lado mais ortodoxo ou do lado dos mais desenvolvimentistas. São fortes as pressões para que o BC nem ouse em pensar em aumentar a Selic no ano que vem.

Mais uma sugestão ao Congresso

Não seria o caso de se criar uma regra consistente com a realidade eleitoral no que diz respeito à substituição do presidente do BC ? O mandato fixo para o presidente e diretoria do BC, bem como a discussão sobre a independência da política monetária, podem não ser assuntos populares, mas garantem segurança ao país nas transições eleitorais. O problema é que estamos em temporada eleitoral e tudo o que possa ser polêmico e tido como impopular, mesmo que necessário e urgente tende a ser negligenciado.

Pitta morre, mas os seus segredos...

Não são poucos os segredos que o ex-prefeito Celso Pitta leva para o túmulo. Todos relacionados com a gestão de Paulo Maluf na prefeitura paulistana, bem como com a sua própria. Não são poucos os que estão se movimentando em relação a este assunto nada fúnebre. A trajetória profissional, política e pessoal de Pitta são exemplo da tragédia na vida dos homens com excesso de ambição e a fruição demasiada do poder.

De ambições e poder

Por falar nesses dois assuntos, nesses nossos tempos bicudos vale lembrar a lição de Lord Acton : "O poder corrompe. E o poder absoluto corrompe absolutamente."

STF decide e Lula não decide. Ainda

Já se sabe que Lula demorará a decidir sobre a extradição de Cesare Battisti. Esperará os prazos legais para decidir. Nos bastidores prepara fórmulas jurídicas para justificar a extradição do "companheiro de carteirinha" de Tarso Genro. Os companheiros de Battisti comemoram a decisão do STF. Lula nem tanto. Será obrigado a tomar uma decisão delicada, o que nunca foi de seu feitio desde os tempos do sindicalismo.

Apagão e sucessão

Ninguém leva a sério o assunto : nem o governo, que deseja enterrar o assunto apagão, e nem a oposição, envergonhada com o seu apagão durante o governo FHC. O jogo é meramente eleitoral e por conta disto é provável que não saibamos as efetivas causas do "microincidente" (apud Tarso Genro) de agora há pouco...

Radar NA REAL

Mantenha suas posições de risco. Esta é a melhor indicação que podemos lhe dar neste momento. Não é hora de aumentar as posições no mercado acionário, nem de moedas, nem de commodities etc. Todavia, não é a hora de reduzir posições apesar da volatilidade recente do mercado local e internacional. Há investidores desconfiados de que a recuperação da economia mundial não é sólida. Bem, isto ainda está no campo da desconfiança, mesmo que os indicadores deem mais evidências de recuperação da atividade econômica e, em menor medida, do emprego. No Brasil, o cenário não é apenas positivo, mas é promissor. De fato, a recuperação da economia local foi muito boa. Está na hora de o governo e, principalmente, do BC se preocupar com a inflação. Aí está um risco efetivamente relevante e que tem sido subestimado pelo mercado. Esta é a razão pela qual não recomendamos títulos com taxas de juros prefixadas neste momento. O mercado mais ativo e especulado no momento é o das commodities. Petróleo e ouro estão com demanda acesa : são o melhor sinal de que a recessão está no final. Apesar de todos os riscos relacionados com a possibilidade de novas "bolhas especulativas".

21/11/9

TENDÊNCIA

SEGMENTO

Cotação

Curto prazo

Médio Prazo

Juros ¹

- Pré-fixados

NA

alta

alta

- Pós-Fixados

NA

estável

alta

Câmbio ²

- EURO

1,4865

estável/alta

alta

- REAL

1,7314

estável/baixa

alta

Mercado Acionário

- Ibovespa

66.327,28

alta/estável

estável/alta

- S&P 500

1.091,38

alta/estável

alta

- NASDAQ

2.146,04

alta/estável

alta

(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Todos são iguais...

...perante os impostos. O prefeito de BH, o socialista Marcio Lacerda (PSB, eleito com o apoio do tucano Aécio Neves e do petista Fernando Pimentel) aumentou o IPTU da capital mineira, acima dos índices de inflação. O prefeito de SP, o liberal Gilberto Kassab (DEM, eleito com o apoio do tucanos José Serra e dos socialistas do PSB) quer aumentar o IPTU da capital paulista em índices que podem chegar a 60%, maiores do que qualquer índice de correção monetária. Quem vive nessas duas cidades ou pelo menos passa por elas algumas vezes percebe sem muito esforço que nenhum dos dois merece receber mais dinheiro para gastar enquanto não aprenderem a administrar.

Geyse e os seus direitos

A vida da estudante Geyse Duarte, agredida por seus colegas de Uniban, está difícil. Não estão indo bem as negociações de seus direitos para posar nua para uma revista masculina. Ela negocia desde o primeiro dia após os fatos que geraram tanta indignação nas organizações de direitos humanos e nas hostes feministas. O cachê pedido é alto e a revista teme problemas de rentabilidade. Quanto aos eventuais outros problemas a publicação resolve com photoshop, aquele programinha de computador que tira celulite de qualquer Wilza Carla.

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A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros.

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Francisco Petros

Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira.

Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000-2002).

José Marcio Mendonça

Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde".

Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Política & Economia NA REAL n° 78

por

Francisco Petros e José Marcio Mendonça
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Terça-feira, 17 de novembro de 2009 - nº 78

Espírito de Minas

Quem anda por MG, capital e interior, e tenta auscultar, tanto entre políticos, líderes empresariais, como junto à população sobre seus sentimentos eleitorais, percebe claramente que há um forte sentimento nativista. Este pode ser definido de modo muito simples : se Aécio Neves e o Estado saírem insatisfeitos (ou "humilhados", como dizem alguns mais radicais) das tratativas da sucessão presidencial na seara oposicionista, os mineiros voltar-se-ão para as suas montanhas. Vão deixar a eleição presidencial, num segundo plano. Como dizem alguns exaltados, Minas não votará em Serra caso Aécio fique magoado. O que pode beneficiar Dilma. E muito também à ex-ministra Marina.

Sentimento de Minas

O PT já apreendeu esse "espírito" eleitoral que grassa entre os mineiros e se prepara para oferecer aos das Alterosas o que eles parecem desejar : a candidata "uai". Equipes de jornalistas e cinegrafistas rondam o Estado preparando matérias sobre a trajetória mineira da ministra Dilma Roussef. Criada politicamente no Sul, a ideia é mostrar que Dilma é mineira de boa cepa. Não se tem ainda informação sobre se algum fonoaudiólogo foi contratado para ensinar Dilma a falar "direitim, direitim", no idioma das Gerais.

Sentimento de Minas - II

Ao que se diz em BH, Aécio não se deixa impressionar com as informações vazadas por Brasília, de que o governo e o PT acham que ele será um candidato muito mais difícil para Dilma derrotar do que Serra. Até porque, se eles pensassem mesmo isso, estariam atacando o governador mineiro e não Serra. Mas a versão é boa para os planos do mineiro. Aécio está agora querendo ampliar sua imagem de bom conciliador, bom aglutinador, e de que é o indicado para promover um novo "pacto federativo" no país, com maior equilíbrio entre os Estados e as regiões. Um discurso que soa bem até para governadores e políticos aliados de Lula e comprometidos com Dilma.

Pouco a acrescentar sobre a economia

Na semana passada, no cenário internacional tivemos duas informações que reforçaram a percepção de que a recuperação das principais economias persiste no bom caminho. A primeira foi a melhora do mercado laboral dos EUA. Trata-se de uma informação - número de pedidos de auxílio-desemprego - ainda que ainda depende de verificação de tendência, mas que foi positivo. A outra foi a divulgação do PIB dos países da zona do euro. Esta última informação, mostrou que a Europa está saindo da recessão, mas com um aspecto negativo que é a enorme dispersão do crescimento entre os países do continente. Tudo isto em linha com as expectativas de investidores e analistas.

As duas questões vitais

Se as evidências de recuperação consistente da economia mundial se acumulam os dois pontos mais relevantes persistem em relação a crise : (i) qual é o limite necessário de estímulo fiscal para que a dinâmica econômica ganhe tração própria (do setor privado) ? (ii) Como sair deste processo ? Sobre ambas as perguntas, não há respostas objetivas e possíveis. No curto prazo, dá para ser afirmativo e dizer apenas que a necessidade do estímulo fiscal continua imperativo.

Brasil já deveria ter respostas

Todos reconhecem que o Brasil é destaque na recuperação de sua economia. Todos os sinais de investimento e consumo são expressivos e positivos, mesmo que no caso dos investimentos a necessidade seja gigantesca. Se isto é verdade, por que ainda não temos mínimas respostas sobre como vamos reduzir o estímulo do governo para a economia ? Sequer a oposição política no Congresso cobra a resposta a esta pergunta.

Banco Central desmantelado

O mercado financeiro local e internacional, a classe política e a sociedade em geral estão subestimando a possibilidade do BC brasileiro ter a sua credibilidade abalada enquanto guardião da moeda. A curiosa entrevista do agora ex-diretor de política monetária do BC Mário Torós mostrou deterioração ética (a prestação de informações confidenciais sem prévia consulta ao colegiado da autoridade monetária), bem como o vazio de informações em relação à substituição de quatro diretores : o próprio presidente, o "diretor falante", o diretor de política econômica e o diretor de liquidações e desestatização.

Torós e suas informações

Nestes tempos do verão, no qual as chuvas tendem a ser torrenciais, o nome do diretor do BC é mais que sugestivo. Ele teceu comentários específicos sobre a gravidade da crise iniciada em setembro de 2008 e sobre a atuação do BC, onde a sua própria estrela brilhou. Não seria o caso de investigar este personagem do ponto de vista do manual de conduta dos servidores públicos ? Não seria o caso de os políticos o convocarem para saber mais sobre suas façanhas heroicas no saneamento da crise ? Ou será que este será mais um daqueles diretores demissionários do BC que antes de sair dão umas entrevistas para arrumar um emprego no mercado financeiro ?

O alerta de Meirelles

Não merecem reparos as afirmações feitas na semana passada por Meirelles sobre os procedimentos e os cuidados na concessão de crédito por parte do sistema financeiro. O volume de crédito concedido pelo sistema até setembro atingiu o patamar inédito de R$ 1,4 trilhão. Ótimo para a economia neste momento, mas um grande risco quando o cenário se deteriora.

Enquanto isto, em Wall Street

Aumentaram muito os comentários no principal centro financeiro mundial dando conta de que a crise de crédito no setor imobiliário dos EUA pode recrudescer em função da inadimplência dos empréstimos concedidos ao segmento de imóveis comerciais.

Radar NA REAL

Mais uma vez não alteramos as nossas recomendações em relação aos segmentos do mercado financeiro incluídos no radar. De uma forma geral, o comportamento recente dos mercados comparativamente às nossas análises de tendências tem sido similar. Não há neste momento nenhuma evidência de fundamentos dos mercados locais e internacionais de que haja alguma mudança de tendência. Ao contrário, os ativos de risco permanecem atrativos, apesar do fluxo de entradas e saídas de recursos neste segmento está bem mais equilibrado em função de certos momentos de "realização de lucros". O segmento negativo do mercado brasileiro é o de renda fixa no qual não recomendamos a tomada de posições prefixadas cuja relação "risco versus retorno" nos parece ineficiente (muito risco para pouco retorno). No que se refere ao mercado acionário o nosso diagnóstico é que o mercado está "caro" e assim continuará até o final do ano. A melhor estratégia é diversificar em setores e empresas cujas expectativas de retorno são melhores num momento em que o Ibovespa deve apresentar retorno moderado. Quanto ao mercado cambial, não há novidades : o real permanecerá valorizado e o dólar não sobre. Nem aqui e nem lá fora.

14/11/9

TENDÊNCIA

SEGMENTO

Cotação

Curto prazo

Médio Prazo

Juros ¹

- Pré-fixados

NA

alta

alta

- Pós-Fixados

NA

estável

alta

Câmbio ²

- EURO

1,4903

estável/alta

alta

- REAL

1,7225

estável/baixa

alta

Mercado Acionário

- Ibovespa

65.325,63

alta/estável

estável/alta

- S&P 500

1.093,48

alta/estável

alta

- NASDAQ

2.167,88

alta/estável

alta

(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Eike, Paes e Cabral : a África é aqui !

Que coisa ridícula a mobilização do empresário Eike Batista, do prefeito Eduardo Paes e do governador Sérgio Cabral em torno da cantora Madonna na semana passada ! A pop star apresentou o seu projeto de implementação dos princípios da cabala em escolas africanas e em dez (isto mesmo : dez !) escolas cariocas. Para isto estava arrecadando US$ 10 milhões entre empresários brasileiros. Até o "Banquete de Estado" ocorrido na quinta-feira passada junto às altas autoridades do Rio, Madonna tinha arrecadado apenas US$ 3 milhões. Eike, impressionado com os dotes pedagógicos da cantora sacou a carteira e deu os US$ 7 milhões que faltavam. Ela chorou. Tadinha, quanta emoção. Tudo isto na mansão carioca de Batista. Logo perto dali, as favelas continuavam com suas mazelas, as escolas públicas persistem abandonadas e os "valores morais e emocionais" divulgados por Madonna não parecem ter muito valor numa cidade onde se mata no atacado.

Apagões e incompetências

A discussão sobre o apagão da semana passada segue em ritmo frenético. Lula finge que cobra explicações, Dilma desfila a sua personalidade intransigente, a oposição ruborizada com os seus próprios apagões finge que fiscaliza e assim vai. Convenhamos, alguém acredita que tudo isto vai levar a alguma conclusão concreta ? O Congresso está interditado pela antecipada campanha eleitoral e o distinto público parece não se importar em permanecer horas no escuro. Em São Paulo, o Rodoanel, construído há poucos anos, simplesmente cai. Serra agradece a Deus pelas poucas (e graves) vítimas do episódio. De fato, "é um Deus nos acuda". Tudo isto muito além da gestão de fulano e sicrano. Há uma deterioração moral, ética, técnica, administrativa e política no país. No setor público, Lula, Dilma e Serra são apenas a "comissão de frente" deste cenário desolador.

O apagão e as eleições I

Lastimável, para dizer o mínimo, o comportamento de governo e oposição na história do apagão (ou micro-incidente como prefere Tarso Genro). Todas as reações foram marcadas apenas pelo cálculo eleitoral, desde as tentativas oficiais de explicações até as cobranças da oposição. Respeito ao cidadão consumidor de energia, nenhum. Para essa gente o brasileiro não passa de um mero (e às vezes exigente demais) eleitor.

O apagão e as eleições II

A oposição ficou toda assanhada com a possibilidade de utilizar o "micro-incidente" (só atingiu cerca de 80 milhões de brasileiros e 7 milhões de paraguaios) para ferir e espicaçar a candidata preferida de Lula. É bom que ela, a oposição, olhe antes para o próprio rabo. Além do seu próprio apagão, ela carrega outros contenciosos pesados, como acidente numa estação do metrô e agora o do Rodoanel. Nesta linha, parece que o jogo está zerado, por enquanto. O placar conta somente contra o povo.

O apagão e as eleições III

Um dos maiores temores do governo em relação ao apagão é o de que as investigações técnicas concluam que as causas sejam, como dizem alguns especialistas, "falhas de gerenciamento". Afinal, Dilma é a "super-gerente" do governo, manda e desmanda no setor elétrico e um dos motes de sua campanha será apresentá-la como uma eficiente executiva.

A ministra e o apagão

Quem decide sobre as grandes linhas e política energética no Brasil é a ministra Dilma. Os outros são "subs" : o "subministro" das Minas e Energia, Edison Lobão, o "subpresidente" da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, o "subdiretor geral" da ANP, Haroldo Lima. O setor foi politicamente dividido entre os partidos aliados, com predominância do PT e do PMDB. Eles podem nomear, assinar contratos, fazer licitações, gerenciar e outros que tais. Mas sempre com a autorização de Dilma.

A ministra, a comunicação e o apagão

A conduta da ministra Dilma, quarenta horas depois do ocorrido, na entrevista coletiva na qual, junto com o "sub" Lobão tentou dar por encerrado o caso do "micro-incidente" mostrou as fraquezas dela quando colocada diante de fatos desagradáveis : perde as estribeiras, fica agressiva, arrogante. Preocupou seus marqueteiros. Em Brasília brincava-se dizendo-se que diante do estilo Serra e da eficiência dos comunicadores do governador paulista, em pouco Dilma ganharia o troféu de Miss Simpatia. Vê-se que ela vai precisar ainda de muita media training e de muito calmante para chegar lá.

Mais um sub na praça

Quem acaba de assumir as funções de subministro do Meio Ambiente é o carioca Carlos Minc. Vai assessorar a ministra de fato, uma das mais novas neoclorofilas da praça política, Dilma Roussef (outro novel incrível Hulk é o governador José Serra). Nada como uma Marina no ar. Quem também está prestes a ser elevado à condição de subministro é o titular dos Transportes, Alfredo Nascimento. Vai assumir tão logo o governo anuncie seu ambicioso programa de transportes para 2010, com o trem bala de mestre sala.

O presidente Lula e o mensalão

Em entrevista à TV Record, Lula desfiou a curiosa teoria conspiratória de que o "carequinha" Marcos Valério foi plantado dentro do PT pela oposição para desmoralizar o PT e o governo, e criar as condições para o impeachment dele, Lula. Há gente que acredita até hoje que Elvis Presley não morreu e duvida que o homem tenha chegado à lua. Mas esta não é a questão importante de fato. A verdade é que, com essa declaração, o presidente chancela a existência do mensalão federal, que os 40 indiciados continuam negando ter existido e sobre o qual Lula disse que nunca tinha ouvido falar antes da história estourar pela boca de Roberto Jefferson.

A nova marca do PMDB

Durante muito anos o MDB/PMDB, com justa razão tinha sua imagem associada à do deputado Ulysses Guimarães, o Dr. Ulysses. Morto Ulysses e com as trapaças da sorte que o partido passou a apresentar, a identificação com o "senhor diretas" foi esmaecendo até o partido ficar sem uma digital clara. Agora, pelo que se pode ver nas inserções comerciais que a legenda está levando ao ar na televisão, o PMDB sugere que tem uma nova cara. Em todas identifica uma pessoa, às vezes com a sua imagem, numa trucagem fílmica, substituindo lentamente na telinha a imagem do Dr. Ulysses num dos momentos históricos dos quais participou. Tenham dó. Um pouco de pudor e modéstia não fazem mal a ninguém.

Vinte anos depois

Em 1989, Lula, Collor e Sarney estavam xingando-se mutuamente durante a primeira eleição pós-ditadura de 64. Hoje são coleguinhas que repartem o poder e se defendem mutuamente. O Brasil é um país realmente cordial. Propomos um brinde a nossa cordialidade.

Enfim, concorrência

A compra da GVT pela francesa Vivendi, disposta a investir recursos na tele brasileira para ampliar seu raio de ação, é um excelente notícia : vai criar um pouco mais de competição no setor de telefonia fixa, ameaçado por um duopólio depois que o governo patrocinou e financiou a compra da Brasil Telecom pela Oi. Nem a Oi nem a Telefónica gostaram do negócio. Principalmente a Telefónica, que disputou a GVT com a Vivendi com a intenção de sair do gueto de São Paulo no qual está praticamente confinada. É de esperar que nem o governo, nem os órgãos reguladores, nem os de defesa da concorrência botem obstáculos ao negócio. Eles precisam se concentrar mesmo é no ainda indefinido - e pouco ortodoxo - acordo Oi e Brasil Telecom.

Burrice na internet

De vez em quando alguém, aqui ou lá fora, tentar criar algum tipo de controle sobre a rede mundial de computadores e a livre circulação de informações no cyber espaço. Quase sempre quebram a cara, embora seja necessário evitar o uso criminoso da rede. O que eles não entendem é a natureza da rede. Agora, por exemplo, no Brasil, há um movimento, do qual participam entidades ligadas aos meios de comunicação como ABERT e ANJ, para exigir que os sites noticiosos no Brasil sejam brindados com as mesmas exigências válidas para jornais, revistas, rádios, televisões no quesito propriedade e controle acionário : só possam ter em sua composição no máximo 30% de capital estrangeiro. Providência inútil. A rede é mundial, aberta, acessível em poucos segundos, por um mero clique. Nada impede que alguém monte no exterior um site noticioso sobre o Brasil, com repórteres locais e para todo mundo ler. Como controlar ?

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A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros.

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Francisco Petros

Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira.

Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000-2002).

José Marcio Mendonça

Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde".

Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).

O que esperar do BC em 2010

O que esperar do BC em 2010

Coluna Econômica - 17/11/2009

Luis Nassif

Vão haver mudanças no Banco Central, mas nada que possa significar uma mudança radical de rumo na política monetária. Provavelmente, apenas mais responsabilidade em sua condução.

Dois fatos devem precipitar as mudanças. Um, as declarações do Diretor Mário Torós ao jornal “Valor Econômico”, dando detalhes da corrida bancária que se seguiu à crise econômica mundial. As inconfidências devem lhe custar um inquérito no Ministério Público – especialmente quando confessou ter passado dados de bancos em dificuldades para candidatos a compradores.

Politicamente, decretou sua saída do BC da pior maneira possível para o mercado financeiro – ao qual ele responde. Demonstrou de forma clara que é um jogador a serviço do mercado. Especialmente quando declara que o BC não tem poder de influenciar o dólar e que o mercado tem que ser livre – algo inconcebível para um diretor incumbido de administrar a volatilidade da moeda.

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O segundo fator é a própria saída do presidente do BC, Henrique Meirelles, que deverá se candidatar a cargo eletivo nas próximas eleições.

Aí se entra na análise das possibilidades futuras. Em ano eleitoral, o governo não irá mexer drasticamente nas políticas monetária e cambial. Mas ganha consciência de que a única vulnerabilidade econômica que poderá atrapalhar 2010 será a volatilidade cambial. A inundação de dólares e a apatia do BC permitirão uma apreciação maior do real com a conseqüente desvalorização no próximo ano.

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Por outro lado, qualquer novo diretor do BC precisa ser aprovado pelo Senado. Encerrado o ano, o Senado só voltará a se reunir em março do próximo ano. Não impedirá a saída de Torós – já que a legislação permitirá a acumulação de cargos com outro diretor. Mas atrapalhará a indicação de alguém de fora da casa, mas não a de um funcionário de carreira..

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Posto isto, as possibilidades maiores são de que a sucessão, no BC, acabe nas mãos de Alexandre Tombini, diretor de Normas do BC e funcionário de carreira.

Nas vezes em que substituiu Meirelles, Tombini impressionou interlocutores de fora do banco. É discreto, como convém a um presidente de BC. É um servidor público exemplar, que não coloca os interesses futuros à frente de sua responsabilidade institucional – como o fez vergonhosamente Torós.

No episódio das tarifas e debêntures bancárias – em que os bancos utilizavam o leasing para captar recursos para outras áreas – foi necessária uma regulamentação rigorosa da atividade. E Tombini agiu como um servidor do Estado.

O mercado não o aprecia, mas o respeita. Internamente, não se ousará uma solução de fora, que possa criar conflitos com a estrutura do BC.

O pendor mercadista do BC não está apenas nos diretores que vêm de fora, mas especialmente nas áreas operacionais do banco. Criou-se uma cultura terrível de cabeças de planilha.

A reforma interna do BC – para que volte a ser uma instituição pública – terá que ser lenta e conduzida pelos cardeais de dentro da organização. que não se deixaram seduzir pelo canto de sereia do mercado.

Administrando o sucesso

O maior desafio do Brasil será "administrar o sucesso", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o titular do BC disse que ouve "palavras até exageradas" sobre o Brasil no exterior. Para ele, a economia brasileira enfrentou bem a crise porque entrou nela com fundamentos sólidos, como balanço de pagamentos favorável e reservas internacionais elevadas, permitindo a aplicação de medidas anticíclicas.

FMI defende yuan valorizado

A China precisa valorizar a sua moeda para reforçar o consumo doméstico e ajudar a reduzir o desequilíbrio global, disse o FMI (Fundo Monetário Internacional). "Uma moeda mais forte é parte de um pacote de reformas necessárias", disse o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn. Isso "ajudaria a elevar o poder de compra das famílias (chinesas), a fatia de renda do trabalho e daria os incentivos corretos para redirecionar investimentos”, acrescentou.

Japão cresce, mas não sai da crise

A economia do Japão cresceu no terceiro trimestre, mas deve continuar enfraquecida. Por isso, o governo se prepara para lançar um novo pacote de estímulo. No período, a expansão do PIB foi de 1,2%, acima da projeção de 0,7% do mercado, mas o consumo continua baixo e o nível de estoques empresariais permanece alto - o que tende a frear o crescimento futuro. O governo deve anunciar medidas anticíclicas na terça-feira, mas não pode gastar demais devido à já elevada dívida nacional.

Mercado eleva expansão para 2010

Estimativas de mercado indicam que a economia brasileira vai crescer mais em 2010. No boletim Focus desta semana, o Banco Central diz que as instituições pesquisadas elevaram as projeções de PIB de 4,83% para 5% no ano que vem, e para 0,21% este ano. O prognóstico anterior para este ano era de 0,2%. A projeção para a taxa Selic em dezembro continuou em 8,75% e 10,5% em 2010. Já a estimativa de inflação medida pelo IPCA para 2010 sofreu um corte, passando de 4,46% para 4,41%.

Expectativa de acordos climáticos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorre dezembro em Copenhague, traga avanços na diminuição da emissão dos gases de efeito estufa. Segundo Lula, a meta brasileira é reduzir as emissões entre 36,1% a 38,9% até 2020, com a queda do desmatamento na Amazônia. Outras estratégias de redução são a preservação do Cerrado, substituição do carvão mineral pelo vegetal e priorização do uso das usinas hidrelétricas.

Demissão de Torós é aguardada

Tanto o ministério da Fazenda como o Banco Central querem a demissão do diretor de Política Monetária do Banco Central, Mário Tóros. O executivo deu uma entrevista ao jornal Valor Econômico na última sexta-feira em que revela estratégias tomadas pelo governo para evitar um contágio maior da crise financeira mundial no final de 2008. Comenta-se que Torós também pode ser processado por quebra de sigilo.

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Política & Economia NA REAL n° 77

por

Francisco Petros e José Marcio Mendonça
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Terça-feira, 10 de novembro de 2009 - nº 77

O "mercado" e "as garantias"

Há um princípio geral da teoria de finanças que reza que "os mercados não têm memória", ou seja, age em função do futuro e não do passado. Bem, este é um elemento crucial de uma construção teórica. Na prática, os mercados parecem agir como o mais dos humanos : "esquece do que lhe interessa e lembra o que lhe é necessário." Pois bem : desde a crise de crédito cujo auge foi em setembro do ano passado, os governos injetaram trilhões e trilhões de recursos no mercado para que ele não entrasse em colapso. Resultado : pouco a pouco, não apenas o mercado, mas as economias iniciaram um processo de recuperação. O "problema desta solução" é que a condição necessária (injeção de recursos estatais) não pode ser permanente. Todavia, o mercado parece querer uma garantia de que o estímulo dos governos permaneça sine die. Ora, isto não é possível por definição - os orçamentos dos não aguentam. Está na hora de definir a "saída de campo" dos erários. O mercado fica oscilando como se chantageasse os governos a ser um "sócio permanente" do jogo financeiro. Os liberais desapareceram e os socialistas estão travestidos.

G-20

Nesta segunda, o G-20 - reunido em Londres - informou que os países membros concordaram em manter as taxas de juros baixas e os estímulos fiscais em vigor. A "garantia" continua para o mercado.

Lá fora e aqui

Se lá fora se discute o fim dos estímulos fiscais, por aqui ninguém nem quer ouvir falar do assunto. Nem o governo, nem o desmobilizado Congresso. O mais perigoso desta passividade é que as contas fiscais brasileiras têm piorado e terão de ser revistas num futuro não muito distante.

Mais sinais da recuperação

A produção industrial dos EUA cresceu 0,7% em setembro. Trata-se do terceiro mês seguido de elevação. O crescimento de setembro não foi estimado por nenhum economista. Superou todas as expectativas. No Reino Unido, a média das estimativas de crescimento para o ano que vem está em 1,0%. Há pouco tempo, esperava-se uma elevação de 0,5% no PIB britânico. Também estão sendo revistos para cima as taxas de crescimento do PIB do Japão, Alemanha e França.

Radar NA REAL

Apesar do aumento da volatilidade nas últimas semanas no mercado financeiro mundial - o que esperávamos e foi comentado em colunas anteriores - o desempenho dos diversos segmentos do mercado persiste saudável e consistente com os fundamentos (taxas de juros baixas, recuperação da atividade econômica, estabilidade das instituições financeiras, etc.). O maior (e crescente) fator de risco tem sido a desvalorização do dólar norte-americano. Até agora, o processo de valorização de quase todas as moedas relevantes do mundo em relação à moedas dos EUA tem sido controlado e em consonância com as expectativas. O problema é que não há formas de dar garantias mínimas de que este cenário estável no mercado cambial permaneça desta forma nos próximos meses. Em matéria de câmbio, não há nem teoria e nem prática econômica e financeira suficiente para se fazer prognósticos. De toda a forma, estamos mantendo as nossas recomendações e indicações do nosso radar.

7/11/9

TENDÊNCIA

SEGMENTO

Cotação

Curto prazo

Médio Prazo

Juros ¹

- Pré-fixados

NA

alta

alta

- Pós-Fixados

NA

estável

alta

Câmbio ²

- EURO

1,4999

estável/alta

alta

- REAL

1,7606

estável/baixa

alta

Mercado Acionário

- Ibovespa

64.466,13

alta/estável

estável/alta

- S&P 500

1.069,30

alta/estável

alta

- NASDAQ

2.112,44

alta/estável

alta

(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Rumo a São Paulo

Perceberam que o deputado Ciro Gomes entrou em quarentena presidencial, tomou um sumiço da mídia ? Chama-se a isto "agradar o superior".

Dois pesos...

O delegado Protógenes levou um gancho de 60 dias da PF por participar de comícios eleitorais. Já outros, nas barbas do TSE e de comissões de ética pública...

Apertando o cerco

Informa o colunista Vicente Nunes, do "Correio Braziliense", que o BB e a CEF foram "aconselhados" por Lula a disputar a presidência da Febraban no ano que vem. É a estratégia do governo para ampliar seu controle, direto e indireto, sobre o sistema financeiro. E para ter "amigos" no comando de grandes entidades corporativas nacionais. Quem já se esqueceu do apoio oficial à eleição de Paulo Skaf na Fiesp ?

O PSDB e o mensalão mineiro

Os tucanos fingiram que a história das incursões do "carequinha" Marcos Valério na campanha de Eduardo Azeredo em Minas não era com eles. Aliás, como fingem que as histórias envolvendo a governadora Yeda Crusius não têm nada com ela. Agora, vão carregar esta cruz em 2010. Vão dividir o peso com o mensalão federal do PT.

O Supremo e os mensalões

O ministro Joaquim Barbosa, relator dos dois mensalões no STF - o mineiro do PSDB e o federal do PT -, sugeriu que os dois fossem julgados conjuntamente. Se aceita a denúncia, não há ainda certeza de que será assim feito, mas seria ótimo se pudesse : daria para ver como se comportariam petistas e tucanos quando metidos neste mesmo saco. Ou será que são do mesmo saco ?

Mensalões: semelhanças e dessemelhanças

Embora tenha a mesma origem, os mesmos métodos, o mesmo operador, e ambos possam ser classificados sem a menor dúvida como "crimes eleitorais hediondos" (aliás, que crime eleitoral não é hediondo, uma vez que tenta burlar o momento supremo da democracia - o voto - e a vontade popular ?), o mensalão do PT e o do PSDB têm uma diferença básica :

1. O de Minas aparentemente esgotou-se no processo eleitoral.

2. O federal foi um "benefício continuado". Começou nas eleições e depois avançou para mesadas em troca de votos no Congresso.

O que eles pensam ?

Passamos mais uma semana de intenso blábláblá eleitoral, com trocas de acusações e outros mimos entre governo e o grupo de oposição mais forte (PSDB/DEM). E os brasileiros de um modo geral continuaram sem saber o que pensam concretamente Dilma, Serra e Aécio sobre educação, saúde, violência urbana, impostos e outras questões que assolam os brasileiros. E vamos continuar sem saber por um bom tempo, se um dia soubermos de fato. Campanha eleitoral é marketing e tais assuntos costumam ser azedos quando tratados em profundidade. Principalmente quando se chega no fulcro da questão : como fazer ?

O nó está em Minas

Segundo colégio eleitoral do país, e com muitas mágoas políticas acumuladas nos últimos anos, Minas Gerais, tanto para o governo quando para a oposição PSDB/DEM, é hoje a grande incógnita e a grande ameaça. Os mineiros sempre gostaram de dizer que a sucessão "passa por Minas". E, de algum modo, passaram : mesmo nos governos militares, os vices saíam prioritariamente das Gerais - José Maria Alckmin (Castelo Branco), Pedro Aleixo (Costa e Silva), Aureliano Chaves (João Figueiredo). Na democracia restaurada, Itamar e José Alencar. Quem vacilar nas composições com a gente das Alterosas pode começar a corrida eleitoral tropeçando.

O primeiro grande teste político de Dilma

A candidata predileta de Lula terá a oportunidade de exercitar hoje seus dotes encantatórios : reúne-se com os dirigentes regionais do PT para convencê-los a ceder espaços ao PMDB na corrida pelos governos estaduais e até para o senador nos lugares onde os liderados de Michel Temer, José Sarney, Renan Calheiros e Jáder Barbalho se julgarem merecedores de tal vênia. Em alguns Estados-chave, como Minas e Rio, se não houver concessões, não haverá acordo. E a prenda eleitoral dos seis minutos do partido no rádio e na televisão, o troféu que Lula almeja, fica em risco.

A cara do cara

Os planos, a estratégia traçada e os movimentos do presidente Lula não deixam mais dúvidas : o candidato à presidência da República em 2010 é ele, Lula. Disfarçado de Dilma Roussef.

Dinheiro e pré-sal

Esta semana começam a ser votados os projetos regulamentando a exploração do pré-sal. Por coincidência, o DOU dos próximos dias vai circular com a liberação de R$ 2 bi de recursos do orçamento para pagamento de emendas parlamentares. Mesmo com a arrecadação em queda e as despesas em alta.

Demagogia previdenciária - 1

O governo está jogando nas costas de sua base aliada a tarefa de barrar a proposta - de fato inexequível nas condições atuais - de equiparar a correção das aposentadorias do INSS ao aumento do salário mínimo. Lula poderia simplesmente vetar a medida, se ela for aprovada. Mas não quer passar por este desgaste político em pleno período eleitoral. Ninguém esquece o quanto perdeu FHC quando chamou os aposentados de "vagabundos". Nenhuma explicação salvou a imagem do ex-presidente. É bom lembrar que toda família no Brasil tem pelo menos um aposentado. Lula quer negociar uma proposta menos radical que o projeto do aumento pelo mínimo (do senador petista Paulo Paim). Corre o risco de desagradar a todos.

Demagogia previdenciária - 2

Não resta dúvida que o tesouro nacional, que é quem cobre os déficits da Previdência (dos trabalhadores da iniciativa privada) terá dificuldades para pagar os custos do aumento das aposentadorias e pensões como propõe o projeto do petista Paim. Serão, somente no ano que vem, algo como R$ 6,9 bi a mais. E em todos os anos seguintes, enquanto persistir os planos do governo de recuperar o poder aquisitivo do salário mínimo. Porém, não se viu dificuldades para este mesmo tesouro pagar os generosos aumentos salariais concedidos aos servidores públicos da ativa, que somente este ano significarão despesas adicionais de R$ 19 bi.

Demagogia previdenciária - 3

Não se vê dificuldade também para o tesouro cobrir os rombos - e que rombos - da previdência (Executivo, Legislativo e Judiciário). Para se ter uma idéia, conforme reportagem de segunda-feira na "Folha" :

- São pouco menos de 1 milhão de aposentados e pensionistas do setor público. Este ano o governo deverá pagar R$ 43 bilhões para pagar a diferença entre a contribuição dos servidores federais na ativa e o que é pago aos inativos.

- O INSS paga mais de 20 milhões de aposentadorias e pensões. Seu déficit será de R$ 45 bilhões.

Em 2003, o governo aprovou com pompa e circunstância uma lei criando a previdência complementar para os servidores públicos. O objetivo era, ao longo dos anos, reduzir o déficit. Até hoje a lei não foi regulamentada.

Ainda há gente assim

Luiza Erundina foi prefeita de SP, ministra da Administração e tem vários mandatos parlamentares. Informa o "Valor Econômico" que ela está com seus bens penhorados - o apartamento onde mora há mais de 20 anos, seus dois carros e 10% de seu salário como deputada federal - para garantir o pagamento de R$ 351 mil ao governo paulistano por gastos em anúncios explicando porque a prefeitura, na ocasião de uma greve nacional, havia suspendido a circulação de ônibus na cidade. Já outros...

O escândalo dos precatórios

Não há dúvidas de que o Congresso vai aprovar as novas regras para o pagamento de precatórios. Vai ser consumado mais um estupro do poder público contra a sociedade. Diz o prefeito de SP, Gilberto Kassab, que o projeto em votação pelos deputados e senadores, é consensual ? Consensual para quem, cara-pálida ?

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A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros.

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Francisco Petros

Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira.

Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000-2002).

José Marcio Mendonça

Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde".

Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).