O que esperar do BC em 2010
Coluna Econômica - 17/11/2009
Luis Nassif
Vão haver mudanças no Banco Central, mas nada que possa significar uma mudança radical de rumo na política monetária. Provavelmente, apenas mais responsabilidade em sua condução.
Dois fatos devem precipitar as mudanças. Um, as declarações do Diretor Mário Torós ao jornal “Valor Econômico”, dando detalhes da corrida bancária que se seguiu à crise econômica mundial. As inconfidências devem lhe custar um inquérito no Ministério Público – especialmente quando confessou ter passado dados de bancos em dificuldades para candidatos a compradores.
Politicamente, decretou sua saída do BC da pior maneira possível para o mercado financeiro – ao qual ele responde. Demonstrou de forma clara que é um jogador a serviço do mercado. Especialmente quando declara que o BC não tem poder de influenciar o dólar e que o mercado tem que ser livre – algo inconcebível para um diretor incumbido de administrar a volatilidade da moeda.
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O segundo fator é a própria saída do presidente do BC, Henrique Meirelles, que deverá se candidatar a cargo eletivo nas próximas eleições.
Aí se entra na análise das possibilidades futuras. Em ano eleitoral, o governo não irá mexer drasticamente nas políticas monetária e cambial. Mas ganha consciência de que a única vulnerabilidade econômica que poderá atrapalhar 2010 será a volatilidade cambial. A inundação de dólares e a apatia do BC permitirão uma apreciação maior do real com a conseqüente desvalorização no próximo ano.
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Por outro lado, qualquer novo diretor do BC precisa ser aprovado pelo Senado. Encerrado o ano, o Senado só voltará a se reunir em março do próximo ano. Não impedirá a saída de Torós – já que a legislação permitirá a acumulação de cargos com outro diretor. Mas atrapalhará a indicação de alguém de fora da casa, mas não a de um funcionário de carreira..
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Posto isto, as possibilidades maiores são de que a sucessão, no BC, acabe nas mãos de Alexandre Tombini, diretor de Normas do BC e funcionário de carreira.
Nas vezes em que substituiu Meirelles, Tombini impressionou interlocutores de fora do banco. É discreto, como convém a um presidente de BC. É um servidor público exemplar, que não coloca os interesses futuros à frente de sua responsabilidade institucional – como o fez vergonhosamente Torós.
No episódio das tarifas e debêntures bancárias – em que os bancos utilizavam o leasing para captar recursos para outras áreas – foi necessária uma regulamentação rigorosa da atividade. E Tombini agiu como um servidor do Estado.
O mercado não o aprecia, mas o respeita. Internamente, não se ousará uma solução de fora, que possa criar conflitos com a estrutura do BC.
O pendor mercadista do BC não está apenas nos diretores que vêm de fora, mas especialmente nas áreas operacionais do banco. Criou-se uma cultura terrível de cabeças de planilha.
A reforma interna do BC – para que volte a ser uma instituição pública – terá que ser lenta e conduzida pelos cardeais de dentro da organização. que não se deixaram seduzir pelo canto de sereia do mercado.
Administrando o sucesso
O maior desafio do Brasil será "administrar o sucesso", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o titular do BC disse que ouve "palavras até exageradas" sobre o Brasil no exterior. Para ele, a economia brasileira enfrentou bem a crise porque entrou nela com fundamentos sólidos, como balanço de pagamentos favorável e reservas internacionais elevadas, permitindo a aplicação de medidas anticíclicas.
FMI defende yuan valorizado
A China precisa valorizar a sua moeda para reforçar o consumo doméstico e ajudar a reduzir o desequilíbrio global, disse o FMI (Fundo Monetário Internacional). "Uma moeda mais forte é parte de um pacote de reformas necessárias", disse o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn. Isso "ajudaria a elevar o poder de compra das famílias (chinesas), a fatia de renda do trabalho e daria os incentivos corretos para redirecionar investimentos”, acrescentou.
Japão cresce, mas não sai da crise
A economia do Japão cresceu no terceiro trimestre, mas deve continuar enfraquecida. Por isso, o governo se prepara para lançar um novo pacote de estímulo. No período, a expansão do PIB foi de 1,2%, acima da projeção de 0,7% do mercado, mas o consumo continua baixo e o nível de estoques empresariais permanece alto - o que tende a frear o crescimento futuro. O governo deve anunciar medidas anticíclicas na terça-feira, mas não pode gastar demais devido à já elevada dívida nacional.
Mercado eleva expansão para 2010
Estimativas de mercado indicam que a economia brasileira vai crescer mais em 2010. No boletim Focus desta semana, o Banco Central diz que as instituições pesquisadas elevaram as projeções de PIB de 4,83% para 5% no ano que vem, e para 0,21% este ano. O prognóstico anterior para este ano era de 0,2%. A projeção para a taxa Selic em dezembro continuou em 8,75% e 10,5% em 2010. Já a estimativa de inflação medida pelo IPCA para 2010 sofreu um corte, passando de 4,46% para 4,41%.
Expectativa de acordos climáticos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que ocorre dezembro em Copenhague, traga avanços na diminuição da emissão dos gases de efeito estufa. Segundo Lula, a meta brasileira é reduzir as emissões entre 36,1% a 38,9% até 2020, com a queda do desmatamento na Amazônia. Outras estratégias de redução são a preservação do Cerrado, substituição do carvão mineral pelo vegetal e priorização do uso das usinas hidrelétricas.
Demissão de Torós é aguardada
Tanto o ministério da Fazenda como o Banco Central querem a demissão do diretor de Política Monetária do Banco Central, Mário Tóros. O executivo deu uma entrevista ao jornal Valor Econômico na última sexta-feira em que revela estratégias tomadas pelo governo para evitar um contágio maior da crise financeira mundial no final de 2008. Comenta-se que Torós também pode ser processado por quebra de sigilo.
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