sábado, 13 de junho de 2009

Política & Economia NA REAL n° 55

por

Francisco Petros e José Marcio Mendonça
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Terça-feira, 9 de junho de 2009 - nº 55

Atividade econômica no Brasil

O pior da crise já passou, conforme estamos a ressaltar nos últimos dois meses nesta coluna. Todavia, os números de atividade econômica, do PIB até os números de emprego, vão melhorar num ritmo relativamente lento. Afinal, a crise foi abundante e a recuperação nestes casos é gradual. Há ainda razões "estatísticas" a influir nos indicadores. As medidas de comparações entre períodos de 2009 e 2008 vão mostrar desempenhos medíocres. É o que ocorrerá com o PIB do primeiro trimestre (e semestre do ano), bem como ocorreu com o emprego industrial na pesquisa do IBGE : a taxa de emprego caiu em todas as 14 regiões metropolitanas pesquisadas (-5,6%) e 16 dos 18 setores industriais pesquisados apresentaram queda da taxa de emprego. A veloz queda da atividade a partir do terceiro trimestre do ano passado contribui para que estes números sejam expressivamente negativos. Todavia, a melhor medida para medir a temperatura da crise é o desempenho em relação ao mês ou trimestre anterior. Assim sendo, tanto os números de emprego quanto os de atividade econômica mostram melhora consistente nos períodos mais recentes. Conclusão : a crise não foi a "marolinha" tão comentada e nem será o desastre anunciado por tantos analistas de plantão. E mais importante : estamos numa fase de recuperação com sinais consistentes.

Emprego nos EUA

As observações da nota acima sobre a atividade econômica brasileira são as mesmas, do ponto de vista conceitual, para o que está a ocorrer nos EUA. Os números de empregos divulgados na semana passada mostram a maior taxa desde 1983, 9,4% da mão-de-obra. De outro lado, há sinais de moderação da deterioração : a perda de empregos no mês de maio foi de 345 mil, bem menor que os números esperados pelos analistas (500 mil). A queda do emprego deve continuar por mais alguns meses. A taxa de desemprego deve alcançar o patamar de 10% da força de trabalho. Todavia, se olharmos os indicadores gerais de atividade (produção industrial, consumo, desempenho do segmento de serviços, etc.), bem como a melhoria substantiva no ambiente do mercado financeiro, há razões para acreditar que o pior também já passou nos EUA. É obvio que os sinais lá são mais prematuros e podem mudar a tendência. Mas apostar no pior é arriscado.

Escolas, aeroportos, parques nacionais, estradas...

Os números de emprego de maior, embora melhores que o esperado, provocaram a reação da Casa Branca. O anúncio do plano de gastos de US$ 787 bilhões para reformar escolas, estradas, etc. e tal é uma boa notícia no campo da criação de demanda (e de emprego). Trata-se de um plano de seis meses atrás que ainda não tinha sido implementado em função de problemas burocráticos e de trâmite no Legislativo.

COPOM

O mercado acredita na queda de 0,75% na Selic a ser divulgada amanhã. Enfim, o Brasil terá uma taxa de juros de um dígito (9,5% ao ano). As previsões dos analistas é que a taxa Selic deve fechar o ano em 9%. Os títulos com taxas de juros prefixadas estão com taxas acima de 10% e devem continuar pagando juros mais altos que a Selic. Afinal, ninguém acredita que a taxa de curto prazo vá cair muito mais e a inflação futura pode ser mais alta. Logo, maior prazo deve implicar em mais juros. Na opinião desta coluna, é possível, senão provável, que o mercado financeiro esteja a subestimar os riscos ficais do Brasil. Se é certo que a expansão monetária e fiscal é fundamental para que exista recuperação da atividade econômica, é muito incerto que o governo no futuro, especialmente num ano eleitoral, seja mais parcimonioso e contenha os gastos governamentais. Esta desconfiança não ocorre somente no Brasil, mas nos EUA e na Europa. Não é à toa que os juros dos títulos de prazo mais longos estão com tendência de alta e são cotados a taxa de 3,80%, muito acima da taxa básica, próxima de zero.

A lei dos salários dos servidores

O diligente ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, tem feito malabarismos verbais para explicar o aumento que os números apontam nos gastos de pessoal do governo federal, muito acima do crescimento da inflação. Faz lembrar o dramaturgo Nélson Rodrigues, reagindo quando confrontado em suas análises futebolísticas com o mundo real com um "ora, bolas para os fatos" ou "o videotape é burro". Seria tão simples o governo acabar com esta discussão e mostrar que está mesmo disposto a conter a expansão real das despesas com a folha de pagamento : basta apoiar a PEC, do próprio governo, que limita o crescimento dos gastos com pessoal, anualmente, a um percentual correspondente à inflação do período mais 1,5%. Esta proposta chegou a ser apresentada como moeda de troca à oposição no Senado quando da votação da prorrogação da CPMF no fim de 2007. Como os oposicionistas, desconfiados, não aceitaram, e com a colaboração de aliados do governo derrotaram o imposto do cheque, ela foi estrategicamente relegada a alguma gaveta. É uma ótima ocasião para Bernardo ressuscitá-la e liberar mais recursos públicos para as políticas anticíclicas. Pena que certos tipos de austeridade fiscal não combinem com determinados ciclos eleitorais.

Radar "NA REAL"

A importante novidade no mercado financeiro mundial foi a maior demanda por ações de empresas industriais nos EUA. Assim sendo, o índice S&P500 andou à frente dos outros indicadores dos mercados acionários mundiais. Este melhor desempenho se deve a maior confiança na recuperação da atividade econômica nos meses vindouros. É um excelente sinal. Mesmo que ainda seja um movimento inicial e que possa ser revertido. O nosso radar persiste com projeções mais otimistas.

3/6/9

TENDÊNCIA

SEGMENTO

Cotação

Curto prazo

Médio Prazo

Juros ¹

- Pré-fixados

NA

estável

estável/alta

- Pós-Fixados

NA

queda

estável/alta

Câmbio ²

- EURO

1,387

alta

alta

- REAL

1,97

estável/alta

alta

Mercado Acionário

- Ibovespa

53.341,01

estável/queda

alta

- S&P 500

940,09

estável

alta

- NASDAQ

1.849,42

estável

alta

(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável

Para elucubrações eleitorais

A notícia : os eleitores dos 27 países da UE, tendo como pano de fundo a crise econômica global, consagraram a direita na escolha do novo Parlamento do bloco. Nos principais países, os conservadores venceram nas urnas, em meio a uma abstenção recorde. A vantagem das siglas ligadas ao Partido Popular Europeu sobre os socialistas se amplia na Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália e Espanha. Para governo e oposição observarem :

1. Em épocas de dificuldades, os eleitores tendem a não se arriscar e a buscar posições menos ousadas, daí a identificação de votos com a direita, tradicionalmente identificada com posições mais conservadoras.

2. Dependendo dos efeitos da crise - e na Europa ela está chegando brava, na ponta mais sensível do emprego - o voto está dirigindo em direção contrária à dos governos instalados. As agruras por que passa Gordon Brown, na Inglaterra, são sintomáticas. Lá a situação está mais grave no continente, exceção da Espanha, com um desemprego astronômico. E há menos de cinco meses o primeiro ministro inglês era apontado como o dirigente mundial que melhor havia entendido a crise.

Birutas de aeroporto

Com a retomada do prestígio de Lula pouco mais de seis meses do início da crise internacional, da chegada da "ex-marolinha" ao Brasil e com a ascensão da ministra Dilma nas pesquisas eleitorais, a oposição não perdeu apenas o norte político-eleitoral, mas também o sul, o leste e o oeste. Está tal qual biruta de aeroporto em dias de ventos muito fortes. Não tem ideias, não tem propostas, não tem o que dizer. A maior prova da perplexidade e do atarantamento dos oposicionistas é a proposta exótica de emenda constitucional de um deputado tucano proibindo a privatização da Petrobras. É sem sentido, a questão não está em jogo. É uma provocação do PT que os oposicionistas engoliram. Será que eles não têm nada de novo a apresentar em matéria de política tributária e outras tais, para serem imediatamente discutidas no Congresso ? E sobre emprego ? Se não têm agora, o que vão dizer na campanha ?

No ar, mais três estatais

O governo Lula prepara, para breve, a criação de mais três estatais. Na verdade, a criação de duas e a reativação de uma. A moribunda Telebrás, em lento processo de liquidação desde a privatização das telecomunicações, está sendo revivida. Ganhou, este ano, um reforço orçamentário. E, há dias, a Casa Civil da ministra Dilma encaminhou um pedido à Anatel de devolução de 50 funcionários (15 engenheiros) da Telebrás que estavam cedidos à agência. Esvazia-se a agência reguladora e se reforça o poder de intervenção do governo. A Telebrás vai ser usada principalmente para ação em novas mídias, como a Internet. Até o fim do mês ficaremos conhecendo os detalhes de como será a empresa - totalmente estatal - que vai cuidar dos negócios do pré-sal, os quais o governo não pretende entregar à Petrobras. Falta explicar claramente por que razão as obrigações não ficarão com a atual estatal petrolífera - ela deverá ficar apenas com algumas vantagens, alguns privilégios. O governo não confia na Petrobras, empresa que ele está defendendo até os limites na CPI do Senado ? Não quer distribuir os lucros com os acionistas privados, que ajudaram a bancar os riscos dos investimentos em pesquisa. Por fim - mas não por último - nascerá uma empresa para coordenar o Projeto do Trem Bala (Campinas, São Paulo, Rio), novo xodó de Dilma no PAC. Será executado pela iniciativa privada, com financiamentos públicos e privados, para estar pronto na Copa de 14. Não é nada não é nada, teremos umas boas duas dúzias de diretorias (e três presidências) e pelo menos uma centena de gerências de bom nível a serem distribuídas, pelos mesmos critérios que marcaram as partilhas na Petrobras, na Eletrobrás, nas agências reguladoras. O que não é pouca coisa em um período de convulsão eleitoral.

A política acima de tudo

Basta acompanhar os últimos dados do currículo do engenheiro de carreira (há muito tempo afastado de suas funções técnicas específicas) da Petrobras, José Eduardo Dutra, para se ter uma ideia dos critérios que são adotados no preenchimento de cargos públicos atualmente no Brasil e a importância (do ponto de vista gerencial, de boa governança corporativa) que se atribui a eles. Veja-se :

1. Derrotado na corrida pelo governo de Sergipe em 2002, como candidato de seu partido, o PT, Dutra foi aquinhoado com nada mais nada menos do que a presidência da Petrobras.

2. Três anos e pouco depois, deixou um dos cargos executivos mais disputados no governo, mais valioso do que quase todos os ministérios, inclusive aquele ao qual a Petrobras está subordinada, o de Minas e Energia, para concorrer a uma vaga ao Senado pelo PT de seu Estado político (ele é mineiro, com formação profissional no Rio).

3. Derrotado novamente, ganhou novo prêmio de consolação, na figura da presidência da BR Distribuidora, a maior das subsidiárias da Petrobras.

4. Agora, dois anos depois de posto no novo emprego, Dutra anuncia que deverá sair em julho para disputar a presidência nacional do PT depois que Lula decidiu manter o secretário particular Gilberto de Carvalho a seu lado.

Não é difícil concluir : o partido e a política são muito mais considerados do que a Petrobras. Ela é um ancoradouro temporário, enquanto não se encontra coisa "melhor".

As outras atividades da Petrobras

Ao que parece, pelo que se pode depreender de dois detalhes, a estatal não é mais apenas uma empresa de petróleo e energia de um modo geral :

1. Com mais de 1.100 pessoas na sua área de comunicações (fora serviços terceirizados de publicidade, de relações públicas, de assessoria de imprensa) é uma das maiores empresas de comunicação no Brasil e, seguramente, a maior redação do país.

2. Com cerca de 650 advogados em seu departamento jurídico (sem contar as contratações de estudos e pareceres externos) seguramente é um dos grandes escritórios de advocacia do Brasil e do mundo.

Lembra um pouco a Eletropaulo antes da privatização : tinha em seus quadros mais jornalistas e mais advogados (separadamente, não somados) do que engenheiros.

Surrealismo à brasileira

Da série "Não é comigo" : O presidente Lula acaba de assinar um manifesto em defesa da Floresta Amazônica encabeçado por alguns artistas que, entre outras coisas, diz o seguinte : "Portanto, a nosso ver, como único procedimento cabível para desacelerar os efeitos quase irreversíveis da devastação, segundo o que determina o §4º, do Artigo 225 da Constituição Federal, onde se lê : "Assim, deve-se implementar em níveis Federal, Estadual e Municipal a interrupção imediata do desmatamento da floresta amazônica. Já!" O manifesto é um ataque à falta de ações dos governos. Se Lula assinou, sendo presidente da República, Deus acuda a Amazônia. E nos acuda.

Janela mais que indiscreta

Quem disse que a reforma política à moda da casa está totalmente enterrada ? Não acreditem. Está agora nas mãos do deputado Flavio Dino (PC do B) apresentar a toque de caixa sugestões de alteração na legislação eleitoral. Algumas positivas, com a liberação do uso da internet nas campanhas. Outras, nem tanto, como as que visam conter a ação e a vigilância da Justiça Eleitoral. Não está descartada também a criação da chamada "janela da infidelidade".

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A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros.

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Francisco Petros

Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira.

Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000-2002).

José Marcio Mendonça

Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde".

Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).

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