A volta do pêndulo na econômia
Coluna Econômica - 11/09/2009
Luis Nassif
Ontem, o PSDB mudou sua posição em relação ao pré-sal. Decidiu não mais fazer oposição sistemática ao projeto do governo. Antes, havia desistido da oposição sistemática ao Bolsa Família.
Nos dois momentos, a radicalização foi pautada pelo noticiário, ainda bastante apegado a slogans do período fernandista. O ajuste de rumos foi motivado pelo reconhecimento de que esses dois temas se incorporaram definitivamente na agenda política brasileira.
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Antes disso, o PT havia aberto mão de bandeiras históricas para abraçar temas como responsabilidade fiscal, mercado de capitais, respeito aos contratos, manutenção da privatização.
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Essas duas posturas ajudam a entender um pouco o panorama político brasileiro.
O primeiro ponto é que não existem partidos programáticos, e sim pragmáticos (no plano político), que vão se amoldando aos ventos políticos. O segundo ponto é a extrema dificuldade do discurso político racional, não ideológico.
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Nos anos 70, o surgimento de grandes estatais foi importante para completar o ciclo de industrialização brasileiro. Com a estatização ganhando vida própria, seguiu-se um período de exageros que paralisou a economia. No começo dos anos 90, foi necessário um furacão para romper um conjunto de dogmas que vicejavam na economia.
Segue-se um período inicial de guerra ideológica, enaltecendo o novo modelo, da prevalência do mercado. Em um primeiro momento, provoca um arejamento no modelo econômico. Depois, interesses se estratificam e a ideologia passa a se sobrepor à busca das melhores práticas para o país. Em vez de ferramenta de modernização, o livre mercado torna-se um mantra que paralisa qualquer pro atividade das políticas públicas.
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Foi uma dura luta a introdução, pelo governo Lula, de novos elementos na discussão econômica. Primeiro, consolidaram-se os conceitos de políticas sociais (com o Bolsa Família e o salário mínimo).
Mas só com a crise global o modelo anterior recebeu seu golpe de misericórdia, com a comprovação, na prática, da importância dos grandes bancos públicos como fator de regulação do mercado e da Petrobras como elemento central da política industrial a ser implementada em torno do pré-sal.
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O risco, agora, será a radicalização na volta do pêndulo.
Por exemplo, atribuem-se todos problemas da telefonia ao modelo de privatização de FHC. Embora a privatização pudesse ter sido bem melhor estruturada, os problemas atuais decorrem da falta de fiscalização da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). E ai a razão não são falhas do modelo mas da falta de pressão social e política sobre o órgão – que está há oito anos na órbita do governo Lula.
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Em algumas áreas, haverá a necessidade de estatais fortes; não em todas. Será necessário aumentar a estrutura de serviços do Estado, mas sem preconceitos contra os métodos de gestão. Será necessário fortalecer tanto a Petrobras quanto o mercado de capitais para a nova etapa de desenvolvimento.
Infelizmente, não existe um partido programático que possa passar ao largo da ideologização barata.
EUA voltam a importar
Os Estados Unidos estão voltando a gastar com importados. Dados do Departamento de Comércio revelam que o déficit comercial do país aumentou US$ 32 bilhões em julho, para US$ 159,6 bilhões, o maior resultado desde janeiro. Os EUA foram responsáveis por 13,2% do total mundial de importações em 2008, segundo a Organização Mundial do Comércio. No período, as importações da China somaram US$ 20,4 bilhões, chegando a US$ 123,5 bilhões de dólares.
BC avalia medidas de estímulo
O Banco Central avalia o efeito dos estímulos fiscais e redução de juros para decisões futuras. Segundo a Ata do Copom (Comitê de Política Monetária), os estímulos fiscais e monetários “deverão contribuir para a retomada da atividade e, consequentemente, para a redução na margem de ociosidade dos fatores produtivos”. Além disso, a postura mais cautelosa adotada pela autoridade monetária vai contribuir para reduzir o risco de “reversões abruptas” nas decisões sobre a Selic no futuro.
Descontrole fiscal ameaça juro básico menor
O descontrole fiscal é o principal desafio para a queda do juro básico, disse o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. "Se não fizermos nenhuma bobagem na Previdência ou criando gastos incomprimíveis no futuro, o juro pode cair ainda mais. Mas se formos em direção a uma perda gradual da responsabilidade fiscal, teremos problemas com a redução da taxa", comentou. Fraga, que atualmente é o presidente do conselho da BM&FBovespa, evitou dar projeções sobre a taxa Selic.
EUA inicia limpeza de ativos tóxicos
O Departamento do Tesouro norte-americano vai realizar as primeiras operações de limpeza de ativos tóxicos dos bancos ainda em setembro. "Os dólares começarão a serem investidos no final deste mês ou início do próximo", disse um funcionário graduado. O governo pretende comprar títulos endossados a ativos com o objetivo de retomar a comercialização desses papéis. A operação integra a estratégia de atrelar ativos invendáveis a fundos de investimento privados ligados ao Estado.
GM vende a Opel
Depois de meses de incerteza, a montadora norte-americana General Motors anunciou a venda do controle acionário de sua unidade alemã Opel para a canadense Magna. A fabricante de autopeças – que contou com o apoio do governo alemão – terá 27,5% do capital, mesma fatia do banco estatal russo Sberbank. Os trabalhadores terão 10% e a GM, 35%. Cerca de 10 mil dos 50 mil trabalhadores perderão seus empregos, adiantaram os novos controladores.
Bancos pressionados nos EUA
Os bancos dos Estados Unidos ainda vão precisar reforçar as provisões para perdas com crédito, segundo a agência de classificação de risco Moody's. A avaliação da entidade para os bancos ainda é negativa. As provisões farão com que os lucros dos bancos sejam pressionados como nos últimos trimestres, afetando seus níveis de capital. Além disso, os bancos deverão perder cerca de US$ 470 bilhões entre 2009 e 2010 com créditos ruins e desvalorização de mercado.
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