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Francisco Petros e José Marcio MendonçaTerça-feira, 18 de agosto de 2009 - nº 65
A pesquisa DataFolha divulgada no domingo ainda serve para indicar as possibilidades reais da candidatura Marina Silva de angariar votos e estragar os prazeres de adversários. Foi realizada ainda quando as especulações sobre sua entrada na disputa ainda estavam muito frescas. O levantamento, além de praticamente reproduzir, para os três principais nomes - Dilma, Serra e Ciro - a mesma situação de maio, traz, contudo, dois dados que merecem melhor análise :
1. As intenções de voto da ex-senadora Heloísa Helena : quase totalmente ausente da grande mídia nacional, a líder do PSOL alcançou 12% da preferência dos pesquisados, apenas 4 pontos a menos do que Dilma e 3 pontos abaixo de Ciro. Sinal de que há uma significativa orfandade eleitoral que nem Serra, nem Dilma, nem Ciro conseguiram ainda preencher.
2. Quando Ciro é retirado da disputa, numa das simulações, Dilma salta de 16% para 19%, enquanto Serra pula de 37% para 44%. Ou seja, mais votos de Ciro vão para Serra do que para Dilma. Isso reforça o argumento de Ciro e do PSB de que a candidatura dele é importante para evitar uma vitória tucana no primeiro turno.
Porém, o fato que ainda está "agitando a pança" é o "fator Marina", cujo destino partidário deverá ser definido esta semana.
Subiu no telhado
Evoluía com fluidez a escolha do vice na chapa de Dilma em direção a uma solução peemedebista. Com a entrada na arena da senadora Marina Silva e o novo assanhamento do PSB e de Ciro Gomes, tivemos uma espécie de "parada técnica". É possível que haja necessidade de usar o lugar antes reservado ao PMDB para acomodar Ciro. E ainda ter alguém à mão para evitar que Dilma se confronte diretamente com a senadora do Acre. Ciro faria este papel. É bom prestar atenção nas reações do PMDB da Câmara, comandado por Michel Temer, para ver como essa facção peemedebista está vendo tais articulações. O PMDB na Câmara tem sido um "doce" até agora, mesmo insatisfeito com a não liberação das emendas dos parlamentares. Não gostaria de ser preterido.
Índia : para se prestar atenção !
Neste último sábado foi o Dia da Independência da Índia. Em um marcante discurso o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh afirmou que fará mais esforços para retomar a taxa de crescimento média dos últimos cinco anos do PIB (9%). A previsão de crescimento para este ano é de 6%, mas os analistas estão revendo suas projeções para algo ao redor de 7%. A crise mundial afetou a Índia em menor magnitude, assim como o Brasil, na medida em que o país é relativamente fechado no comércio exterior e o seu sistema financeiro pouco internacionalizado. O déficit público que era antes da crise ao redor de 3% do PIB mais que dobrou (para 6,2%) e supriu parte da demanda perdida com as exportações de produtos e serviços. A inflação do país permanece controlada e os maiores riscos neste item estão relacionados com o setor agrícola, ainda muito subdesenvolvido e dependente do regime de chuvas da região (monções). Manmohan Singh recentemente teve uma importante vitória nas eleições parlamentares na medida em que seu governo se tornou mais centrista do ponto de vista político e mais reformista do ponto de vista econômico. A Índia pode e provavelmente será a maior concorrente por capitais dentre os emergentes. Talvez se torne a grande estrela dos BRICs. Além da novela das oito...
Ações : oferta e demanda
Um dos pontos críticos para os mercados acionários diz respeito à análise da (i) demanda de ações por parte dos investidores (normalmente dependente da avaliação dos "fundamentos" das empresas e da economia) e (ii) da oferta de ações, via IPOs ou ofertas secundárias (ações já existentes que são vendidas em blocos. Neste caso, o dinheiro não entra na empresa, vai para os vendedores das ações). Como temos salientado ao longo dos últimos meses, permanecemos otimistas em relação à influência positiva dos fundamentos sobre os preços das ações, embora os riscos de médio e longo prazo estejam aumentando com certa velocidade (sobretudo os riscos fiscais). No que se refere à oferta, os investidores devem tomar muita atenção em relação ao IPOs e colocações secundárias. Algumas operações já foram concretizadas. Muitas estão em negociação. Isto significa que os controladores do capital das empresas e os seus managers consideram que os preços atuais nas bolsas são "justos" para que se efetuem ofertas de ações. Ora, todos sabem que há assimetria de informação entre aqueles que conhecem as empresas "por dentro" (controladores e managers) e os investidores em geral. Os primeiros "sabem mais" e são "insiders". Os segundos, não. Com efeito : neste momento de mercado, aqueles que "sabem mais" estão ofertando ações. Para os demandantes, o momento recomenda mais análise em relação à aquisição de ações dos IPOs e, sobretudo, das ofertas secundárias. Finalmente : estas ofertas podem sugerir que no curto prazo, os preços de mercado já chegaram próximo do topo.
Tendência do mercado financeiro
Em nossa opinião há quatro fatores mais evidentes a influenciar o mercado neste momento e que podem determinar a tendência do mercado financeiro local e internacional. Vejamos :
1. A alta desde meados do primeiro trimestre já levou o nível de preços dos ativos para patamares do início da crise (sobretudo do mercado acionário dos países emergentes). Necessariamente uma valorização adicional dependerá de uma maior taxa de crescimento da atividade econômica e da melhoria adicional dos fundamentos das empresas;
2. Há dentre os investidores e consumidores um sentimento de que o cenário está melhor. Não são muitos os indicadores de sentimento do consumidor existentes no país, mas a melhoria na taxa de emprego e a maior disponibilidade de crédito contribuíram para esta melhoria. Para influenciar de forma adicional e positiva o mercado, as expectativas têm de melhorar de forma consistente;
3. O melhor desempenho do mercado internacional ocorre com múltiplos indicadores divergentes entre si. De um lado, melhoram os indicadores de atividade (p.ex., a divulgação dos lucros das maiores empresas americanas e do PIB dos países da zona do euro), mas de outro há indicadores de consumo e desemprego muito sofríveis. A futura valorização dos ativos dependerá de indicadores mais consistentes entre si;
4. As taxas de juros tem de permanecer relativamente estáveis. Referimo-nos não apenas as taxas de juros básicas, mas, especialmente, as taxas de juros dos títulos de prazo mais longo (p.ex., os títulos com vencimento de 10 anos do Tesouro norte-americano). As expectativas de inflação estão relativamente controladas, mas os temores com os déficits fiscais são relevantes e causam temor. Daqui para frente, a elevação dos preços dos ativos deverá ser mais contida e a cautela será maior em função dos fatores acima.
Radar NA REAL
Não estamos fazendo nenhuma mudança substantiva no nosso radar. Todavia, acreditamos que a possibilidade de uma realização mais acentuada de lucros nos mercados de renda fixa e renda variável local é muito mais provável que há algumas semanas. Não é apenas uma questão relacionada com o noticiário e a divulgação dos indicadores econômicos. Há muito lucro nos bolsos dos investidores e neste tipo de cenário muitos podem desejar embolsar os lucros. Aí, o mercado cai. Os principais segmentos (no Brasil) que podem ser influenciados por este fator são o mercado acionário e de juros futuros (títulos prefixados também). Nesta ordem. O câmbio pode subir, mas provavelmente sem força. As bolsas lá fora também podem cair de patamar. A mesma lógica de realização de lucros que vale por aqui, por lá também vale.
14/8/9 |
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TENDÊNCIA | |||
SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ |
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- Pré-fixados | NA | estável | alta |
- Pós-Fixados | NA | estável | estável/alta |
Câmbio ² |
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- EURO | 1,4203 |
alta | alta |
- REAL | 1,8300 |
estável/baixa | alta |
Mercado Acionário |
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- Ibovespa | 56.638,00 | estável/queda | estável/alta |
- S&P 500 | 1.004,09 | estável/queda | alta |
- NASDAQ | 1985,52 | estável/queda | alta |
(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Meirelles, entre a especulação e o fato
Há meses especula-se sobre a candidatura do presidente do BC Henrique Meirelles ao governo de Goiás, sua terra natal. Nesse tempo, o chefe da autoridade monetária negou que fosse disputar a cadeira de governador. Sem ênfase, é verdade. Na última sexta-feira, o presidente Lula, como sempre empolgado com seus discursos, afirmou que "se Meirelles conduzir a economia de Goiás como ele conduziu (sic) o Banco Central, Goiás só tem a ganhar." Ora, Meirelles ainda é o presidente do BC, mas o presidente já anunciou a sua candidatura. Ademais, de sua parte, Henrique Meirelles disse : "não estou pensando em partido agora. Até março o foco é no BC." Como se vê, intrinsecamente o presidente do BC admite a candidatura. De fato, é candidato. Isto lhe retira a imparcialidade para conduzir o BC. Deveria sair já. Até mesmo pela existência de claros conflitos de interesse entre a condução de um cargo de Estado e a política partidária visando um governo.
Não combina
A política partidária, ainda mais para um quase neófito como Meirelles, implica em "negociações", concessões, liberações... A presidência do BC exige firmeza, dureza... Alguém consegue imaginar, por exemplo, Ben Bernanke filiado ao Partido Democrata e candidato ao governo do Texas e ao mesmo tempo comandando o Fed ?
Não sai mesmo
A popularidade de Lula não mexeu um milímetro nos últimos dois meses, apesar de seu temerário engajamento na crise do Senado. Assim, o mandato de Sarney e sua permanência na presidência do Senado estão totalmente garantidos.
Fatura em dia
O filho do senador Renan Calheiros ganhou mais uma concessão de rádio para Alagoas na semana passada. Tomou posse ontem na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, o até então secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, José Lima de Andrade Neto. É homem de confiança do ministro Edison Lobão, que por sua vez é do staff político de Sarney e Renan. José Eduardo Dutra está trocando a BR Distribuidora para disputar a presidência nacional do PT. Justifica o sacrifício por ser homem de partido. Certamente não ficará ao relento, caso Dilma Roussef seja eleita. Derrotado ao governo de Sergipe em 2002, foi escalado pelo governo Lula para presidir a Petrobras. Derrotado ao Senado também por Sergipe em 2006, foi chamado por Lula para presidir a BR Distribuidora.
Bancos audaciosos
São simplesmente fabulosos os desempenhos do BB e da CEF nos seis primeiros meses do ano. Uma coisa nunca dantes vista neste país. No caso, foram respeitados todos os pressupostos de prudência que a delicada administração do setor exige ? O passado das instituições não aconselha entusiasmo exagerado ainda mais se sabendo que os avanços superlativos se deram com espantosa velocidade.
O tal do spread
Está evidente que o assunto spread é muito difícil mesmo de ser analisado. Os bancos oficiais informaram níveis de taxa de risco (spread) equivalentes aos dos bancos privados. Ora, será o efeito do "mercado" ? Por que o ministro Mantega não se debruça sobre este indicador para saber a causa ?
Desatenção jurídica
Está sendo muito pouco discutida a proposta de "enxugamento" da CF/88 que está sendo preparada pelo deputado paulista Régis de Oliveira por encomenda do presidente da Câmara, Michel Temer. Não é "flor do recesso". É para valer. Temer quer deixar uma marca própria nessa sua passagem pelo cargo, possível alavanca para voos mais altos. Além do mais, a sugestão é sedutora. E que, deixada solta, pode se prestar tanto para o bom como para o péssimo.
Reforma da saúde nos EUA
O plano de reforma do setor de saúde de Obama tem por objetivo reduzir o largo déficit do governo na área e, caso o presidente norte-americano tenha sucesso em implementá-lo, haverá mais conforto com a situação fiscal do governo no médio prazo. O papel do governo na saúde será reduzido por meio de um modelo que estimula a competição e a livre escolha de médicos e hospitais. Algo mais avançado daquilo que tentou Clinton em meados dos anos 90. Um modelo liberal. (O que acharia a esquerda brasileira sobre estes planos do "esquerdista" Barack Obama ?) Do ponto de vista do mercado esta reforma é decisiva para o curso das cotações das ações e, sobretudo, dos títulos do Tesouro norte-americano.
Quanto vale ?
O PMDB tem 5 minutos e 45 segundos no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão na corrida presidencial. Tanto o PT quanto o PSDB gostariam de se apossar dessa fortuna.
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A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros.
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Francisco Petros
Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira.
Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000-2002).
José Marcio Mendonça
Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde".
Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).
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