segunda-feira, 24 de agosto de 2009

As próximas etapas da economia

As próximas etapas da economia

Coluna Econômica - 24/08/2009

Luís Nassif


O quadro econômico se mostra assim:

1. Desde junho a economia brasileira vem se recuperando consistentemente. A recuperação poderia ter sido mais intensa se o câmbio não desestimulasse as exportações de manufaturados.

2. A economia ocidental parece ter batido no fundo do poço e esboça alguma reação, que poderá contrabalançar a provável perda de ritmo da economia chinesa, depois que políticas contra-cíclicas seguraram-na de uma queda maior.

3. Ainda há enormes dúvidas no horizonte. O sistema financeiro internacional continua disfuncional, sem normalizar os créditos e empoçando novamente a liquidez em fundos hedge.

4. Prosseguem os movimentos especulativos com moedas, afetando principalmente o real.

Dentro desse quadro, a economia brasileira começou a se recuperar via consumo. Deu certo a ofensiva do governo, com a isenção de IPI para vários setores e o alinhamento dos bancos públicos com a estratégia de recomposição do crédito.

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Mesmo assim, ainda não é suficiente para retomar o círculo de crescimento pré-crise, por uma razão. Esse ciclo começa com o aumento da demanda interna e externa (via exportações). A indústria passa a ocupar mais sua capacidade instalada. Quando o crescimento da produção vai chegando perto do limite de ocupação, a indústria recorre a alguns expedientes (segundo e terceiro turnos, terceirização de parte da produção) enquanto providencia novos investimentos que ampliem sua capacidade produtiva. Aí, passa a vitaminar a indústria de bens e equipamentos. Esta amplia empregos, salários que irão bater em mais aumento de consumo, completando o círculo virtuoso.

Com a crise, o nível de produção caiu bastante. O crescimento atual irá recompondo-o gradualmente. Mas possivelmente antes de 2011 não deverá haver novo aumento dos investimentos privados.

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Essa nova etapa será fundamentalmente financiada pela indústria de fundos – de investimento e de pensão – graças a alguns trunfos brasileiros. O primeiro, o desenvolvimento de uma indústria de fundos poderosa e de uma boa capacidade de análise de projetos no mercado.

O segundo, a redução das taxas de juros e da dívida pública, que gradativamente permitirá a liberação de mais recursos para obras de infra-estrutura.

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O relatório de agosto da ANBID (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) permite uma boa avaliação sobre os efeitos da crise, da recuperação das bolsas e da redução da taxa Selic no mercado de fundos.

No total, a indústria de fundos cresceu R$ 58 bi (R$ 974 bi de aplicações contra R$ 918 bi de resgastes)

No semestre, o maior salto foi dos FDICS (Fundo de Recebíveis), um salto de R$ 28 bilhões, como efeito das restrições creditícias impostas pelo sistema bancário. Esse salto ajudará a promover mudanças substanciais no modelo de bancarização do crédito. Cada vez mais, alternativas não-bancárias serão utilizadas.

Houve aumento também no saldo dos fundos multimercados (R$ 10 bi), por parte de investidores descontentes com as taxas de juros e querendo aproveitar outras oportunidades, em incorrer em riscos muito elevados.

O menor déficit nominal do G20

A economia brasileira vai apresentar o menor déficit nominal entre os países do G20 (grupo dos 7 países ricos mais as 13 principais economias emergentes), segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O déficit nominal – saldo negativo resultante dos gastos maiores que as receitas, além das despesas com juros – ficará entre 2,1% e 2,2%, afirmou o ministro. "Estamos retomando a economia sem criar desequilíbrio, acumular inflação ou aumentar as dívidas pública e externa", disse.

Bradesco e Porto Seguro encerram negociações

As negociações entre a seguradora Porto Seguro e o Bradesco Seguros foram encerradas sem chegar a um entendimento. "A Porto Seguro informa a seus acionistas e ao mercado que não tiveram sequência seus entendimentos com a Bradesco Seguros", divulgou a companhia. O Bradesco Seguros, líder nacional de mercado, estava interessado na carteira de seguros de automóveis da Porto, que detém a maior fatia desse segmento no Estado de São Paulo.

PIB do México cai mais de 10%

O PIB do México despencou no segundo trimestre, informou o governo. A retração foi de 10,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, pior resultado em quase três décadas. As principais causas foram a queda das exportações aos Estados Unidos e o surto de gripe suína, que atingiu o setor produtivo. O diretor da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Jorge Mattar, disse que o México vai manter os programas sociais para evitar o aprofundamento da pobreza.

Construção civil vai demandar aço

As boas perspectivas para a construção civil vão aumentar a procura por aços longos, disse o presidente da siderúrgica Gerdau, André Gerdau Johannpeter. Além da retomada do mercado imobiliário, o programa habitacional do governo Minha Casa, Minha Vida pode gerar procura de até 1 milhão de toneladas de aço em três a cinco anos, afirmou Johannpeter. Para os próximos meses, o mercado tende a permanecer pouco aquecido, em função do consumo de estoques antigos.

Recuperação lenta da economia

A economia mundial está atingindo um patamar estável, mas a recuperação será lenta, de acordo com o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Ben Bernanke. A atividade econômica estaria se estabilizando nos EUA e no exterior, afirma. Porém, a recuperação "deve ser relativamente lenta no início, com o desemprego caindo apenas gradualmente de seus níveis mais elevados”. Para que novas crises sejam evitadas, Bernanke defendeu mais rigor na fiscalização do sistema.

Zona do euro se recupera

A economia da zona do euro está voltando a crescer. A leitura preliminar do índice Markit - que mede a evolução dos setores de serviços e manufatureiro – avançou 3 pontos e ficou em 50 no mês de agosto. Pelos critérios do índice, trata-se de estabilidade. "As pesquisas somam-se aos dados recentes sugerindo que a recessão acabou e que de fato a economia provavelmente deve crescer no terceiro trimestre", afirmouu Nick Kounis, especialista do banco Fortis.



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