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Francisco Petros e José Marcio MendonçaTerça-feira, 24 de novembro de 2009 - nº 79
O PMDB da vida real
A imprensa, de um modo geral, não deu importância à reunião de parte do PMDB no sábado em Curitiba, sob o comando do polêmico Roberto Requião. O PT, o governo, o PSDB e o DEM também preferiram ignorar publicamente o fato. Porém, ele veio para perturbar. A moção de 14 seções estaduais do partido - maioria entre os 26 diretórios estaduais mais o distrital de Brasília - que lançou a candidatura própria de Requião à presidência racha o partido. Mostra, no mínimo, que o que está sendo vendido pelos líderes não é de pronta entrega. A candidatura Requião dificilmente vingará, bem como dificilmente o grupo que esteve no Paraná seguirá unido em torno de uma mesma candidatura à sucessão de Lula. Contudo, põe novos atores - e novos custos, novas exigências - a montagem da ampla aliança que o presidente quer formar em torno de sua favorita. O PMDB não tem uma voz unificada nem nenhuma liderança nacional. Lula terá de negociar com uma "confederação". E o presidente parece ter percebido o desafio depois da desacorçoada declaração de que a candidata governista vai ter de conviver com palanques duplos em diversos Estados. Como isso é delicado, complicado...
O PT na vida real
Quando se referiu ao "complicômetro" dos palanques duplos na campanha de Dilma, Lula não apontava para o PMDB a sua metralhadora giratória. Seus alvos maiores são os companheiros petistas de jornada. Está delicado em muitos Estados cortar carreira e ambições em nome de um projeto nacional. Lula, com o prestígio que tem, poderá impor ao seu partido o "centralismo democrático" dos bons tempos. Porém, deixará sequelas graves, capazes de prejudicar não apenas uma possível administração Dilma como também os passos futuros da legenda. Ainda mais se Dilma não ganhar e a turma for apeada do poder e ficar sem força em Estados importantes. O PT ao traçar sua estratégia futura tem algumas variáveis a considerar : o pós-Lula, a possibilidade de não eleger Dilma (ou seja, voltar à planície sem cargos) e o fato de seu aliado preferencial, o PMDB, não ter nada a perder na sucessão presidencial (será governo qualquer que seja o eleito).
O PSDB na vida real
Antes de mais nada, quem tiver informações sobre o PSDB, por favor, informe esta coluna. Ironias à parte, os tucanos terão de pular do muro antes do fim ano, talvez nas duas próximas semanas. As aparências que Serra e Aécio procuram exibir não convencem mais ninguém. O problema é que o partido parece não ter nenhuma liderança, nem mesmo o ex-presidente FHC, em condições de botar os móveis no lugar.
Será mesmo uma estratégia ?
Alguns bem informados do ninho tucano garantem que faz parte da estratégia eleitoral da oposição as duras críticas conceituais que o ex-presidente FHC tem feito ao presidente Lula, como as do artigo de duas semanas atrás publicado no "Estadão" e em "O Globo" no qual falou em subperonismo e outras coisas mais. O raciocínio é simples : como Lula quer comparar os dois governos - o dele e o de FHC - o ex-presidente sairia para a liça para debater com Lula. Dizem até que o presidente já mordeu a isca. Assim, Serra ficaria livre para provocar Dilma no terreno que os tucanos julgam melhor : propostas para o futuro, não um olhar para o passado, e confronto de biografias e capacidade gerencial. Pode ser que este já seja um caminho traçado. Antes, contudo, os tucanos precisam dizer o que pretendem.
Fed na corda bamba
Depois de um estímulo fiscal da ordem de US$ 3,0 trilhões, o Fed está fiscalizando e analisando algumas das principais instituições financeiras do país para verificar se têm capacidade financeira (capital adequacy) para bancar os riscos de suas carteiras de investimento e de crédito. Há pressões do Congresso americano para que a autoridade monetária impeça o surgimento de novas bolhas especulativas. A fiscalização foi iniciada junto aos bancos Goldman Sachs, JP Morgan Chase, e Morgan Stanley. Pois bem : a verdade é que o Fed está num momento delicado. Ao manter as taxas de juros próximas de zero, o Fed estimula a economia, mas também o surgimento das "bolhas especulativas". Há o agravante do enfraquecimento do dólar, o que é bom para as exportações americanas, mas é ruim para o equilíbrio das contas correntes dos parceiros comerciais dos EUA. A única coisa certa é que um erro do Fed custará caro aos americanos e ao resto do mundo.
Especulação : tudo como dantes
A proliferação dos fundos especulativos denominados hedge funds prossegue ao redor do mundo. Mais e mais executivos estão a caminho de montar as suas próprias empresas de investimento para participar da jogatina internacional. A única coisa certa nisso tudo é que nem a administração Obama nem os organismos multilaterais (BIRD, FMI, BIS), estão dispostos a emitir opiniões sobre o fenômeno, e muito menos regular estas instituições, muitas delas localizadas em paraísos fiscais. A economia mundial está a se recuperar a passos lentos e, em alguns casos, trôpegos. Todavia, os fundos especulativos estão recuperados e preparados para construir uma nova bolha.
Cadê a posição brasileira ?
Lula candidato fazia bravatas contra a especulação. Como presidente sabemos que tomou o caminho conservador na gestão econômica. Tem, inclusive, orgulho de emprestar dinheiro ao FMI, instituição contra a qual mirava os seus ataques políticos na fase "xiita". Não seria este o momento do Brasil cobrar uma posição em relação ao andamento das reformas relacionadas com o sistema financeiro internacional ?
Meirelles parece definido - I
Deve ser mesmo verdade a declaração do presidente do BC Henrique Meirelles de que permanecerá até o final do mandato do presidente Lula na sua atual posição. Não há desencanto de Meirelles com a política, mas também não há muito consenso no seu Estado natal em relação à sua candidatura. Os diretores atuais do BC parecem inclinados a seguir a posição do chefe. Isto pode evitar uma transição atabalhoada da autoridade monetária às portas do processo eleitoral do ano que vem.
Meirelles parece definido - II
Ficando, Meirelles estaria atendendo a um pedido de Lula, preocupado com um possível "efeito Dilma" no dito mercado. Há também o "efeito Serra" mais ou menos idêntico ao de sua concorrente : os dois são vistos por operadores do mercado financeiro como muito "abertos" no que tange à política monetária. Porém, há outras explicações plausíveis para as hesitações de Meirelles : o pouco espaço que os muy companheiros do PMDB, nacionalmente e em Goiás reservaram até agora para ele. Meirelles não tem a garantia ainda de que poderá disputar a governadoria ou uma das vagas goianas para o Senado. Menos ainda a possibilidade de ser vice de Dilma. E uma vaga de deputado federal, com a que ele renunciou em 2003 como tucano para ir para o BC, passou a ser pequena para quem tem o prestígio interno e externo que ele tem hoje. Meirelles prefere guardar-se para quando o carnaval chegar. Portanto, diz esta interpretação da provável desistência de Meirelles que pode ser apenas uma pressão sobre o PMDB, partido que até já se apresenta em sua propaganda como detentor do BC.
O Torós passou
Ponto para Meirelles : muito boa a sua atuação na substituição do falante diretor do BC Mário Torós. Indicou um nome bem recebido pela comunidade de negócios e mostrou autoridade perante o antigo diretor. Ficou uma dúvida, porém, que somente será sanada nas duas ou três próximas reuniões do Copom : de que lado perfilará o novo diretor, Aldo Mendes, oriundo da burocracia financeira estatal - se do lado mais ortodoxo ou do lado dos mais desenvolvimentistas. São fortes as pressões para que o BC nem ouse em pensar em aumentar a Selic no ano que vem.
Mais uma sugestão ao Congresso
Não seria o caso de se criar uma regra consistente com a realidade eleitoral no que diz respeito à substituição do presidente do BC ? O mandato fixo para o presidente e diretoria do BC, bem como a discussão sobre a independência da política monetária, podem não ser assuntos populares, mas garantem segurança ao país nas transições eleitorais. O problema é que estamos em temporada eleitoral e tudo o que possa ser polêmico e tido como impopular, mesmo que necessário e urgente tende a ser negligenciado.
Pitta morre, mas os seus segredos...
Não são poucos os segredos que o ex-prefeito Celso Pitta leva para o túmulo. Todos relacionados com a gestão de Paulo Maluf na prefeitura paulistana, bem como com a sua própria. Não são poucos os que estão se movimentando em relação a este assunto nada fúnebre. A trajetória profissional, política e pessoal de Pitta são exemplo da tragédia na vida dos homens com excesso de ambição e a fruição demasiada do poder.
De ambições e poder
Por falar nesses dois assuntos, nesses nossos tempos bicudos vale lembrar a lição de Lord Acton : "O poder corrompe. E o poder absoluto corrompe absolutamente."
STF decide e Lula não decide. Ainda
Já se sabe que Lula demorará a decidir sobre a extradição de Cesare Battisti. Esperará os prazos legais para decidir. Nos bastidores prepara fórmulas jurídicas para justificar a extradição do "companheiro de carteirinha" de Tarso Genro. Os companheiros de Battisti comemoram a decisão do STF. Lula nem tanto. Será obrigado a tomar uma decisão delicada, o que nunca foi de seu feitio desde os tempos do sindicalismo.
Apagão e sucessão
Ninguém leva a sério o assunto : nem o governo, que deseja enterrar o assunto apagão, e nem a oposição, envergonhada com o seu apagão durante o governo FHC. O jogo é meramente eleitoral e por conta disto é provável que não saibamos as efetivas causas do "microincidente" (apud Tarso Genro) de agora há pouco...
Radar NA REAL
Mantenha suas posições de risco. Esta é a melhor indicação que podemos lhe dar neste momento. Não é hora de aumentar as posições no mercado acionário, nem de moedas, nem de commodities etc. Todavia, não é a hora de reduzir posições apesar da volatilidade recente do mercado local e internacional. Há investidores desconfiados de que a recuperação da economia mundial não é sólida. Bem, isto ainda está no campo da desconfiança, mesmo que os indicadores deem mais evidências de recuperação da atividade econômica e, em menor medida, do emprego. No Brasil, o cenário não é apenas positivo, mas é promissor. De fato, a recuperação da economia local foi muito boa. Está na hora de o governo e, principalmente, do BC se preocupar com a inflação. Aí está um risco efetivamente relevante e que tem sido subestimado pelo mercado. Esta é a razão pela qual não recomendamos títulos com taxas de juros prefixadas neste momento. O mercado mais ativo e especulado no momento é o das commodities. Petróleo e ouro estão com demanda acesa : são o melhor sinal de que a recessão está no final. Apesar de todos os riscos relacionados com a possibilidade de novas "bolhas especulativas".
21/11/9 |
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SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ |
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- Pré-fixados | NA | alta | alta |
- Pós-Fixados | NA |
estável | alta | ||
Câmbio ² |
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- EURO | 1,4865 | estável/alta | alta |
- REAL | 1,7314 | estável/baixa | alta |
Mercado Acionário |
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- Ibovespa | 66.327,28 | alta/estável | estável/alta |
- S&P 500 | 1.091,38 | alta/estável | alta |
- NASDAQ |
2.146,04 | alta/estável | alta |
(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Todos são iguais...
...perante os impostos. O prefeito de BH, o socialista Marcio Lacerda (PSB, eleito com o apoio do tucano Aécio Neves e do petista Fernando Pimentel) aumentou o IPTU da capital mineira, acima dos índices de inflação. O prefeito de SP, o liberal Gilberto Kassab (DEM, eleito com o apoio do tucanos José Serra e dos socialistas do PSB) quer aumentar o IPTU da capital paulista em índices que podem chegar a 60%, maiores do que qualquer índice de correção monetária. Quem vive nessas duas cidades ou pelo menos passa por elas algumas vezes percebe sem muito esforço que nenhum dos dois merece receber mais dinheiro para gastar enquanto não aprenderem a administrar.
Geyse e os seus direitos
A vida da estudante Geyse Duarte, agredida por seus colegas de Uniban, está difícil. Não estão indo bem as negociações de seus direitos para posar nua para uma revista masculina. Ela negocia desde o primeiro dia após os fatos que geraram tanta indignação nas organizações de direitos humanos e nas hostes feministas. O cachê pedido é alto e a revista teme problemas de rentabilidade. Quanto aos eventuais outros problemas a publicação resolve com photoshop, aquele programinha de computador que tira celulite de qualquer Wilza Carla.
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A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros.
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Francisco Petros
Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira.
Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000-2002).
José Marcio Mendonça
Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde".
Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).