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Francisco Petros e José Marcio MendonçaTerça-feira, 21 de julho de 2009 - nº 61
Uma pausa para boas notícias
A temporada de resultados das empresas com ações negociadas nas bolsas nos EUA começou de forma promissora. Os resultados dos bancos vieram melhor que o esperado, as empresas de semicondutores (especialmente a Intel) estão com demanda acima do esperado, o que sinaliza retomada da atividade econômica no segundo semestre, e o consumo de setores básicos e aquisição de imóveis parecem ter se estabilizado. Os investidores olharam para o lado positivo da moeda e os mercados acionários mundiais reagiram comprando fortemente ações. Mais um sinal de recuperação dos mercados que continuam a trabalhar com uma recuperação econômica gradual ao longo dos próximos três semestres.
De outro lado...
Se há razões para se acreditar numa evolução benigna dos mercados, há de outro lado notícias desalentadoras. A taxa de desemprego nos EUA e na Europa ainda não deu sinais consistentes de estabilização. Ao contrário : as expectativas são de que irão piorar ainda mais antes de melhorarem. Há mais : a atividade de crédito permanece estagnada num patamar muito baixo nos EUA e os balanços dos bancos, embora melhores, ainda são muito preocupantes. Os investidores por ora entendem que os preços dos ativos refletem estas más (e conhecidas) notícias. Todavia, se os fundamentos mais relevantes não começarem a melhorar sistematicamente é possível que tenhamos uma decepção generalizada no terceiro trimestre.
E as reformas ?
Não é apenas o Brasil que não acelera mudanças e reformas estruturais. Não há, por enquanto, nenhum sinal evidente de que as prometidas reformas no sistema financeiro mundial, sobretudo no norte-americano, sejam implementadas. Há resistências dentro e fora dos governos e dos Congressos. Nos EUA, o excelente resultado do terceiro trimestre da Goldman Sachs foi acompanhado da notícia de que os bônus do banco voltarão ao mesmo patamar de antes da crise. Um assunto privado ? Não ! Com o dinheiro público sendo utilizado pelo banco para sustentar a sua posição financeira.
FMI, Banco Mundial, BIS...
Da mesma forma que a reforma no sistema financeiro mundial, os organismos multilaterais também não devem sofrer reformas profundas após a crise mais importante desde 1929. Os burocratas dos organismos e os governos dos países ricos adoram o atual status das instituições. Uma questão de poder. Será que Lula haverá de se posicionar sobre o tema ? Lembrando que o Brasil participou com grande estardalhaço do aumento de capital do FMI.
Por falar em picaretagem
Em breve o governo da Islândia irá recapitalizar os seus bancos ao custo de US$ 2,2 bi. Estes bancos serviram a toda espécie de transação durante a onda especulativa dos últimos anos. Estarão de volta em breve. Na velha forma ? Se julgarmos pela ausência de reformas no sistema financeiro mundial, a coisa muda muito para ficar do jeito que era...
Os iguais e os "mais iguais"
E por falar em reformas, vejamos mais uma do Brasil. Os dados são do IPEA, portanto insuspeitos de manipulação em favor do mundo oficial a que ele pertence: em 2008, a conta previdenciária do setor privado consumiu no Orçamento federal 6,9% do PIB ; a do setor público, levou 4,7% do PIB. Nesse segundo ponto, não estão incluídos os gastos previdenciários de Estados e municípios. Agora façam a conta : os aposentados e pensionistas de setor privado (INSS) são cerca de 19 milhões ; os do setor público não passam de um milhão.
Radar "NA REAL"
O cenário que desenhamos para o mercado financeiro permanece o mesmo. A tendência estrutural é de melhora e isto foi confirmado nas últimas semanas quando as cotações das bolsas e dos ativos de renda fixa se tornaram, de um lado, mais voláteis em função das inquietações sobre o futuro da economia mundial, mas, de outro, reagiram bem às notícias de resultados e do setor financeiro nos EUA. Recomendamos aos investidores a manutenção de posições de ações (no Brasil e no exterior) e atenção à valorização do Real no Brasil (que torna os ativos mais caros). O risco do mercado permanece elevado e o controle destes riscos deve ser feito por meio de uma sábia diversificação entre mercados e ativos. Mais um cuidado no Brasil : não compre títulos prefixados de prazo muito longo. A taxa de juros há de refletir os riscos fiscais crescentes do Brasil. Repetimos : o cenário é benigno, mas ainda o risco é elevado.
17/7/9 |
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TENDÊNCIA | |||
SEGMENTO | Cotação | Curto prazo | Médio Prazo |
Juros ¹ |
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- Pré-fixados | NA | estável | alta |
- Pós-Fixados | NA |
estável | estável/alta | ||
Câmbio ² |
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- EURO |
1,398 | alta | alta | |
- REAL | 1,91 | estável | alta |
Mercado Acionário |
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- Ibovespa | 52.072,49 | estável | alta |
- S&P 500 | 940,38 | estável/queda | alta |
- NASDAQ | 1.886,81 | estável/queda | alta |
(1) - Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais)
(2) - Em relação ao dólar norte-americano
NA - Não aplicável
Um recesso conveniente. Conveniente mesmo ?
Sarney e Lula apostam nas férias compulsórias de 15 dias de deputados e senadores para esfriar a crise do Senado, acoplada agora, definitivamente, à CPI da Petrobras, por opção maquiavélica do PMDB. Sarney e Petrobras são faces da mesma moeda (metaforicamente e de fato). Pode ser que o descongelamento não se dê. Pelo contrário. Brasília, por suas peculiaridades urbanísticas, funciona como uma espécie de quartel-general, de fortificação. Por lá, quando quer, o governante pode se isolar - e como se isola ! - do país. Não ouve nem vê os ecos do país dos brasileiros. São elevadores privativos, carros oficiais, seguranças, garagens subterrâneas, leituras selecionadas, convivência entre pares e iguais, num quase completo alheamento às críticas e autocríticas. Uma convivência meio promíscua que não raro leva à degeneração da raça, como nas relações inter-familiares para procriações. Fora desse ambiente asséptico, porém, os políticos ficam desprotegidos, ou seja, estão mais à vista do eleitor e mais tempo expostos ao outro Brasil. É um pouco mais do que as famosas "visitas às bases" dos fins de semana. Portanto, estão mais sujeitos aos humores da opinião pública, aquela que o senador Paulo Duque definiu como "volúvel". Portanto, podem voltar a Brasília mal influenciados (para o gosto de Sarney e de Lula). Vai depender do grau de indignação da sociedade. Que no momento está em ebulição. E a sobrevivência individual costuma comover muito mais que os compromissos político-partidários. Nada menos que 54 senadores dos 81 hoje instalados na capital da República findam seus mandatos no ano que vem.
Uma agenda nova, por favor !
Num evento comício para cerca de 3 mil prefeitos em Brasília, Lula aconselhou os comandantes municipais a pressionarem o Congresso pela aprovação da regulamentação da emenda constitucional 29, que destina mais recursos do Orçamento para a Saúde. Tudo indica que a presidência da República está com sua cadernetinha de endereços desatualizada. Quem não deixa a base aliada aprovar as normas reguladoras da emenda 29 são os ministros Paulo Bernardo e Guido Mantega. E como se sabe, Mantega e Bernardo são muito indisciplinados : só fazem o que Lula não quer.
Alguém tem de pagar
Já está escalado o alto dirigente da Petrobras que será oferecido aos sacrifícios se a CPI sair do controle e for preciso apresentar algum culpado para acalmar a oposição e a opinião pública : Wilson Santarosa, gerente executivo de Comunicação Institucional da Empresa, responsável, entre outras, pela área de patrocínio da estatal. Da fornida cota político-sindical aboletada em postos de relevo na Petrobras, Santarosa é homem de partido, de cumprir missões.
Uma estratégia a mais para a CPI
Os domínios da CPI da Petrobras serão do PMDB. Como dissemos em nota acima, é uma das faces da crise de Sarney (e Renan). Porém, para não perder o controle o PMDB quer que a questão do pré-sal seja o "maior debate" da CPI. Afinal, estarão os senadores tratando de coisas que virão ! Desta forma, evita-se discutir o que já passou.
Qual a utilidade ?
Se, como já anunciaram o lépido ministro Édison Lobão, caberá à Petrobras os principais trabalhos de campo na exploração do pré-sal e se os leilões das áreas ficarão sob a responsabilidade da ANP, por que diabos vai se criar mais uma empresa estatal - a Petrosal ? Resposta de alguém menos ingênuo : ora, são no mínimo umas cinco novas diretorias e boa dezena de gerências. Sem contar que os acionistas privados da Petrobras, que investiu com risco na área, vão ficar chupando o dedo, com a transferência dos ganhos maiores para a Petrosal. A nova estatal ajudará ainda a esvaziar um pouco mais a ANP, pois deverá ser uma espécie de supervisora e coordenadora de tudo. O governo Lula nunca morreu de amores pela autonomia das agências reguladoras. Embora a ANP esteja loteada entre políticos amigos, por via das dúvidas vão-se o resto de suas asas. Como paulatinamente o governo está fazendo com todas elas, especialmente ANEEL e ANATEL.
Briga boa
A Petrobras (e seus acionistas privados) pode até ficar de fora da fatia mais gorda do petróleo do pré-sal, embora a estatal deva ser agraciada com certos privilégios na definição das áreas de exploração. Mas os Estados e municípios não aceitam ser passados para trás na questão dos royalties na nova lei. Como a regulamentação terá de passar pelo Congresso, a briga vai ser boa. O governo tem um discurso pronto : o fundo social, a ser criado com recursos do pré-sal, será distribuído para todos. Governadores e prefeitos não são de cair nesse argumento : eles não administrarão esse dinheiro, portanto, "os lucros" ficarão com o governo federal.
Ações da Petrobras
Não há respostas claras dentre os analistas das ações da Petrobras. Ninguém informa para os investidores se a questão (risco) do pré-sal está refletida nas cotações da estatal nas bolsas. O mico pode estar solto e ninguém fala muito dele.
Ética de ocasião
Lista de deputados que viajaram a Paris com todas as despesas pagas por empresas francesas interessadas na venda de aviões da Dassault ao Brasil para um convescote no qual, segundo o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, um dos convivas, ocorreu "um lobby muito saudável e elegante" :
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Michel Temer (PMDB/SP)
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José Aníbal (PSDB/SP)
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Candido Vacarezza (PT/SP)
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Ronaldo Caiado (DEM/GO)
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Raul Jungmann (PPS/PE)
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Maria Lúcia Cardoso (PMDB/MG)
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Ibsen Pinheiro (PMDB/RS)
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Carlos Zarattini (PT/SP)
Paris, "uma festa" na descrição de Ernest Hemingway, parece que vale mais que uma missa na política nacional.
Uma sugestão da coluna
Diante a crise política atual, o maior esvaziamento político em tempos democráticos da história da República, por que não se mudam as medidas de transparência na divulgação de todos os bens dos mandatários brasileiros antes e depois do mandato ? Seria uma ótima medida para que os políticos evitassem a pecha de "ladrões", livremente pronunciada nas ruas de todo o país ?
Exemplo de eficiência
O governo, por intermédio do ministério das Comunicações, responsável por todas as fases do processo, demorou mais de dois anos para definir os padrões que seriam adotados para a televisão digital brasileira e suas regras de funcionamento. Debaixo de críticas de muitos especialistas, optou-se pelo padrão japonês, com inovações brasileiras - daí o nome de Sistema Brasileiro de TV Digital. Acreditava-se que seria um sucesso imediato de crítica e de público, tais os cuidados adotados e as garantias das autoridades. Pois bem ! Na semana passada a procuradoria-Geral da República, em parecer pouco comentado e divulgado, considerou inconstitucional o decreto 5.820 que trata de implantação do SBTVD. Para o procurador-Geral ainda faltam informações do governo e não há esclarecimentos à sociedade sobre a adoção do padrão japonês. Além disso, até hoje nenhum sinal da fábrica de chips que os japoneses, segundo o ministro Hélio Costa, prometeram instalar no Brasil em função da vitória na batalha contra seus concorrentes europeus e americanos. É a história de uma trapalhada que ainda está para ser integralmente contada. Quem sabe o MPF não se anime.
O nome correto - I
Boa parte das ONGs no Brasil, pelo menos as bem sucedidas, deveria mesmo se chamar Organizações Não-Governamentais Governamentais (ONGGs). Não podem passar sem um dinheiro da viúva. Algumas até usam esses recursos para promover "protestos a favor".
O nome correto - II
Quem leu com atenção da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2010, aprovada na semana passada no Congresso, diz que em muitos aspectos ela deve chamada, na realidade, de Lei de Diretrizes Eleitorais.
Esta coisa de ser "queridinho"
O Brasil (e seu governo) tem o maior orgulho de ser um dos "queridinhos" do mercado financeiro internacional. Vale lembrar que o México durante anos foi paparicado pelos investidores em função da qualidade de suas políticas pró-mercado. Hoje é um país pouco lembrado pelos investidores e analistas. A ALCA - lembram-se dela ? - era o melhor dos mundos para o país. Hoje é a sua pena. O recado é claro : cuidado com os paparicos dos investidores...
Lula e o futuro
Não têm passadas despercebidas as alterações que Lula faz nos seus planos para depois que passar o cetro da República a seu sucessor. Inicialmente, voltaria para São Bernardo do Campo para pescar a "assar um coelhinho". Depois deu de confessar - já o fez em pelo menos duas ocasiões - que já está sentindo saudades da Presidência. Deu também para indicar que poderia aceitar alguma missão internacional, voltada para o combate à pobreza, especialmente na África. Desde a semana passada, seus subalternos fazem espalhar em Brasília que o lugar para Lula é a presidência do Banco Mundial, onde ele poderia utilizar sua experiência nessas políticas no Brasil.
Yuan, a nova moeda internacional
A China comunista deve ter em breve várias operações internacionais nominadas na sua moeda, o Yuan. Tudo em detrimento do dólar e do euro, principalmente. O Brasil ambiciona o mesmo para o Real. O maior problema é que, embora a China tenha muitas fragilidades do ponto de vista fiscal e financeiro (bancos quebrados), todos os capitalistas do mundo creem na capacidade da ditadura chinesa manter as coisas em ordem. No Brasil, há fragilidade fiscal e um governo democrático. Apesar da República ser capenga do ponto de vista político.
Maydoff à la brasileira
Analistas jurídicos que avaliam os processos envolvendo as empresas de Bernard Maydoff, o maior picareta de todos os tempos no mercado financeiro internacional, informam - a partir de Miami - que quase todos os requerimentos de ressarcimento dos recursos perdidos nas tramóias do "investidor" serão negados pelo governo dos EUA. Razão : trata-se de dinheiro ilegal. Muito ilegal em alguns casos.
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A coluna Política & Economia NA REAL, integrante do portal Migalhas (www.migalhas.com.br), é assinada por José Marcio Mendonça e Francisco Petros.
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Francisco Petros
Economista e pós-graduado em finanças (IBMEC). Trabalha há vinte anos na área de mercado de capitais, especialmente no segmento de administração de fundos e carteiras, corporate finance e consultoria financeira.
Foi Presidente da APIMEC- Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (2000-2002).
José Marcio Mendonça
Jornalista profissional, analista de riscos. Foi diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, e chefe de redação da Sucursal Brasília dos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal da Tarde".
Editou o "Caderno de Sábado", suplemento de cultura o JT. É editor do blog "A política como ela é" e colunista do jornal "Diário do Comércio" (SP).
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