domingo, 24 de maio de 2009

A ciência econômica é capaz de explicar a crise?

A ciência econômica é capaz de explicar a crise?

*por Tiago Berner Vivian

Economistas especializados em finanças apostam suas fichas na competência e importância do setor privado para a solução da crise que assola a economia mundial. O discurso é baseado na busca pelo “novo”, em uma era diferente na gestão empresarial, em que as transformações na governança corporativa ditariam as bases de um mundo reinventado. Chegam ao cúmulo de negar o passado, afirmando que o futuro dele não depende.

Falar em mudanças e em novos padrões de cultura organizacional como solução para a crise global é alimentar o marketing empresarial. Dizer que novos paradigmas devem ser criados e uma nova era se aproxima é uma utopia de longo prazo. O Capitalismo é cíclico e de tempos em tempos esgota-se em si mesmo, uma realidade há tempos conhecida. E esquecer o passado é um dos erros mais graves em que um economista pode incorrer.

A idéia é compreendida quando identificamos a formação desses economistas - mercadológica, técnica, exata e que aplica a economia puramente nos negócios. É uma economia indispensável, porém não suficiente. E sua análise se limita a explicar parte dos problemas. Ou, ainda, a porção visível deles.

Existem teorias que apóiam essa abordagem. O Brasil carece, realmente, de um planejamento de longo prazo, um plano de desenvolvimento concreto e isento de qualquer partidarismo político (e também da corrupção) voltado ao setor privado. E que seja capaz de alavancar a produtividade, o emprego sustentável. Mas o que insiste em permanecer é o "partidarismo" econômico.

O grande equívoco cometido pelos engenheiros da economia é falar em crescimento sem se lembrar do desenvolvimento econômico. A fórmula para crescer é fácil e imutável: emprego, renda, acumulação, produção e consumo. Não vai demorar muito e o mundo começará a praticar essa lógica mais uma vez.

É no meio da "lógica do capital” e no centro do papel do Estado, porém, que se encontram os indicadores mais importantes para o desenvolvimento de um país: saúde e educação, infra-estrutura e qualidade de vida, segurança, cultura e gestão dos recursos naturais. São eles os verdadeiros responsáveis por sustentar o crescimento econômico. Muito trabalho deve ser empregado no sentido de se especificar e quantificar tais variáveis – inclusive aquelas de caráter qualitativo.

A preocupação com os rumos da economia mundial e sua análise deve possuir caráter multidisciplinar. Deve-se esquecer a vaidade na economia, fundamentando o debate econômico em bases teóricas diversificadas e incorporando a elas dados de outras áreas do conhecimento. O pluralismo de idéias tem de ser incorporado na formulação de políticas públicas Afinal, a economia pura, tal como pensada ao longo de quase três séculos, já não é capaz de explicar e prever todos os fenômenos do nosso mundo.

* Tiago Berner Vivian é economista graduado pela Universidade Mackenzie e especializado em desenvolvimento sócio-econômico. Atua há dois anos como consultor de negócios

Nenhum comentário: