quarta-feira, 25 de março de 2009

As dificuldades do plano Geithner



25/03/2009

As dificuldades do plano Geithner

Coluna Econômica - 25/03/2009

O plano de Barack Obama – de limpeza dos chamados “ativos tóxicos” dos bancos –, o chamado plano Geithner é apenas um esperneio, que evita, de imediato, aquela que é apontada como a única saída para o sistema bancário norte-americano: a estatização.


O plano prevê a compra de ativos tóxicos, pelo mercado, com o Tesouro bancando a maior parte do risco.


O esquema será bancado pelo Tesouro em parceria com a Corporação Federal de Seguro de Depósito (FDIC, na sigla em inglês). Suponha um banco que tenha uma carteira de empréstimos imobiliários avaliada em US$ 100 milhões. Ele vai ao mercado e leiloa. Se o preço oferecido for de US$ 36 milhões, o FDIC garante US$ 30 milhões; os US$ 6 milhões restantes serão divididos igualmente entre o Tesouro e o investidor.


Esses fundos de investimento serão geridos por cinco gestores privados, fiscalizados pelas autoridades federais.


O governo alegava que estava sendo muito difícil definir o valor das carteiras a serem adquiridas. Com esse modelo, o próprio mercado se incumbiria de dar o preço.


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Em um primeiro momento, o pacote entusiasmou o mercado, mas devido a um efeito conhecido: sempre que surge um fato novo, cria-se um movimento positivo que melhora o preço das ações; os investidores aproveitam para vender seus papéis e reduzir o prejuízo.

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São muitas as dificuldades apontadas pelos críticos. A primeira é que a iniciativa de se desfazer dos ativos é dos bancos. Se o processo for muito lento, permanecerão as dúvidas sobre a solidez dos bancos. Se a economia não se recuperar, haverá uma deterioração adicional nos ativos. Assim, mesmo minimizando o risco do investidor, permanecerão várias incógnitas no ar, sempre adiando a solução final.


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O problema maior é que Obama está em contagem regressiva – desde o momento em que foi empossado. Com a crise se aprofundando, não há espaço para erros ou para medidas inócuas. A cada mês aumenta o desemprego, como consequência cai mais o consumo, as famílias americanas ficam mais na defensiva, a crise se aprofunda mais, os ativos dos bancos se tornam mais deteriorados.


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O mal estar foi agravado pela questão dos bônus pagos aos executivos da AIG – a seguradora que recebeu recursos públicos e distribuiu parte aos seus executivos.


Ontem, Obama tentou reverter o mal estar, pedindo ao Congresso poderes para fechar instituições não bancárias em falência, que representassem risco para a economia. Um dos grandes problemas, na atual crise, foi a proliferação dessas instituições e de operações em bancos de investimento, à margem da fiscalização do FED.


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Essa balbúrdia regulatória ainda não foi resolvida. O FDIC pode fechar bancos, o Departamento de Tesouro não. Além de ambos e do FED, ainda existe a fiscalização da SEC (Securities and Exchange Commission, o órgão regulador do mercado de capitais americano), entre outras instituições.


No fundo, há enorme tergiversação para se fugir da hora da verdade.


Comércio mundial deve cair 9%


A queda da demanda mundial vai provocar uma contração de 9% no volume de trocas comerciais, aponta a OMC (Organização Mundial do Comércio), naquela que será a maior retração desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A crise vai afetar mais os países ricos, em que os cidadãos tomaram crédito e compraram além dos recursos. A queda estimada para tais nações é estimada em 10%. As nações em desenvolvimento devem desacelerar de 2% a 3%, calcula a OMC.

Metade dos bônus da AIG serão recuperados


O promotor da cidade de Nova York, Andrew Cuomo, afirmou que será possível recuperar metade dos US$ 165 milhões distribuídos em bônus aos executivos da seguradora AIG. Quinze dos vinte principais beneficiários concordaram em devolver o prêmio, e a soma chega a US$ 30 milhões. Outros funcionários vão devolver US$ 50 milhões, ampliando o montante para US$ 80 milhões. Os funcionários que abdicarem do prêmio não terão seus nomes divulgados, garantiu Cuomo.

Inflação na Inglaterra sobe


A alta dos preços dos alimentos e bebidas, recreação e transportes puxou a inflação na Grã-Bretanha, anunciou o Escritório Nacional de Estatísticas. Em fevereiro, o índice de preços ao consumidor subiu 0,9% em relação a janeiro, e 3,2% ante o mesmo período de 2008. Os números vieram acima das expectativas dos analistas (0,2% mensal e 2,5% anual). O presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King, declarou que a inflação deve voltar a cair após um período de extrema volatilidade.

China defende nova moeda internacional


O Banco Central da China se declarou favorável a uma nova moeda internacional gerenciada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), em substituição ao dólar norte-americano. O presidente do BC chinês, Zhou Xiaochuan, disse que a crise mostrou os perigos de se confiar em uma só divisa, sem se referir diretamente ao dólar. A China é o maior detentor de dólares, com reservas cambiais de US$ 2 trilhões, e ultimamente seus líderes têm reclamado da volatilidade da moeda.

Coréia do Sul reforça orçamento doméstico


A Coréia do Sul anunciou um reforço de 28,9 trilhões de wons (US$ 20,83 bilhões) no orçamento doméstico. O montante aprovado é o maior da história, e visa amortecer o declínio da economia, que enfrenta a primeira recessão em mais de 10 anos. Economistas disseram que o gasto vai proporcionar um apoio muito necessário, mas que provavelmente não vai evitar uma profunda recessão neste ano, que será agravada pela queda da procura de exportações sul-coreanas.

Mantega defende crédito a exportadores


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defende a criação de uma linha adicional de crédito pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), voltado aos compradores de países emergentes. "Basta dar crédito a eles que vai melhorar a situação do Brasil", disse. Para Mantega, a falta de capital disponível também provocou o declínio do comércio mundial. "O comércio sofrerá uma retração esse ano, em parte porque a demanda caiu, mas em parte também porque está faltando crédito", disse.



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